segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Crítica: Uma Batalha Após a Outra (2025)


Em Uma Batalha Após a Outra (One Battle After Another), Paul Thomas Anderson adapta novamente para as telas uma obra do escritor Thomas Pynchon, retomando a veia antissistêmica que ele já havia explorado em Vício Inerente (2014). Desta vez, o cineasta constrói um épico que combina revolução, política e drama familiar, mantendo a intensidade visceral que tanto marca a sua filmografia.


A trama começa nos apresentando ao grupo French 75, um grupo de revolucionários que busca, de maneira violenta e transgressiva, reparar injustiças sociais e enfrentar as estruturas de poder. Suas ações variam desde libertar imigrantes mantidos prisioneiros, até colocar bombas em gabinetes de políticos contrários ao aborto. São atos extremos mas com propósitos bem definidos, ainda que os meios empregados sejam prejudiciais até para eles mesmos. Logo na cena de abertura, o grupo declara guerra ao coronel Steven J. Lockjaw (Sean Penn), um homem branco, extremista e supremacista, que naturalmente assume o papel de antagonista da história. Essa perseguição entre caça e caçador vai permear todo o restante do filme, mesmo quando há um salto temporal significativo.

Dentro do French 75, conhecemos dois membros de destaque: Perfidia Beverly Hills (Teyana Taylor), que literalmente sente tesão no que faz e vê a luta armada como um combustível que dá sentido à sua vida, e Bob Ferguson (Leonardo Dicaprio), parceiro de Perfidia, que compartilha os mesmos ideais, mas parece estar no grupo mais por influência, funcionando muitas vezes como um alívio cômico por conta de sua maneira desajeitada no exercício das funções.


Quando uma sucessão de eventos em cadeia leva ao desmantelamento do grupo, o filme avança dezesseis anos no tempo. Agora, vemos Bob levando uma vida tranquila, longe da insanidade revolucionária, enquanto cria sua filha adolescente Willa (Chase Infiniti). Apesar desta aparente tranquilidade, é evidente que eles ainda vivem às sombras dos acontecimentos passados, principalmente pela paranoia de Bob, que vive em constante estado de alerta. Paralelamente, o coronel Lockjaw está tentando entrar para uma espécie de seita elitista e supremacista, com um nome tão ridículo quanto os seus princípios sectários, mas vê seu ingresso no grupo correndo perigo por acontecimentos do passado que, inevitavelmente, o colocam novamente no caminho de Bob e sua filha.

O roteiro de PTA é muito dinâmico, toda hora mudando de perspectiva, mas nunca deixando o ritmo cair. É um filme vibrante por essência, que apresenta personagens riquíssimos e muito bem construídos. DiCaprio é o protagonista condutor, e se sai bem demais neste papel tresloucado e inseguro, mas a grande força do filme talvez esteja mesmo no seus coadjuvantes. Mesmo com participações breves, Teyana Taylor e Benicio del Toro estão fantásticos em cena, bem como a jovem atriz Chase Infiniti. E há ainda Sean Penn, que retorna a um papel de grande destaque e entrega uma atuação marcante ao encarnar um vilão tão execrável quanto fascinante.


A direção de Paul Thomas Anderson chega ao seu ápice em uma cena de perseguição em uma autoestrada, que sem sombra de dúvidas é uma das cenas mais tensas e memoráveis dos últimos anos. Ao confrontar a fúria representada pelo coronel e a paranoia de Bob, Anderson cria uma metáfora contundente da América contemporânea e do seu estado constante de tensão política. No fim das contas, um dos maiores trunfos do filme reside justamente na personalidade errática de seus personagens: nenhum deles é ideal, todos carregam falhas profundas e tomam decisões controversas. E é nessa imperfeição, tão humana quanto inquietante, que o roteiro encontra sua verdadeira força.

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