Em O Escafandro e a Borboleta (Le Scaphandre et le Papillon), o diretor Julian Schnabel volta a tratar de um tema recorrente em seus filmes: a luta pela vida e a ajuda da arte para superar as dificuldades.
A trama se baseia na história real de Jean-Dominique Bauby, redator chefe da revista francesa Elle, que sofre um derrame aos 42 anos de idade enquanto andava de carro na companhia do seu filho. Após três semanas em coma, ele desperta cercado de médicos e enfermeiros, que logo detectam que ele perdeu para sempre os movimentos de todo o corpo, com exceção do olho esquerdo.
Nos primeiros minutos do filme, nos vemos dentro da cabeça de Bauby. A câmera nos dá a visão dele, em um artifício poucas vezes visto no cinema. Ele passa a viver no quarto do hospital, e seu mundo passa a ser apenas aquele ambiente. Seus dias são obviamente monótonos, e dividem-se entre momentos de descanso e as visitas de sua ex-esposa Celine e alguns amigos. Porém, não há nenhuma espécie de comunicação entre eles.
Uma fonoaudióloga é contratada para tentar uma comunicação com o paciente, e acaba inventando um esquema simples, mas eficiente. Usando um quadro com as letras do alfabeto francês, ela diz cada uma delas em voz alta e o paciente fica na tarefa de piscar na escolhida, formando assim palavras e consequentemente frases. Dessa maneira, Bauby e sua médica conseguem suavizar um pouco o sentimento de prisão criada devido a sua incapacidade motora.
Na segunda parte do longa, temos as primeiras cenas fora do hospital, com a aparição de flash-backs da vida do paciente. Percebemos que ele não era nenhum santo, mas apesar disso, sofremos e torcemos juntos pela sua recuperação. Além da visão, Bauby também não perdeu seu espírito criativo e sua memória, e com ajuda do sistema criado, acabou escrevendo um livro relatando suas memórias, que foi um sucesso de vendas quando lançado e após sua morte.
O diretor tratou do assunto com brilhantismo, sem apelações, fazendo com que o filme não caísse em momento algum no comum. Destaque também para a atuação de Mathieu Amalric, que teve a dura missão de dar vida a um personagem imóvel, e conseguiu transmitir com perfeição todo o drama de alguém na situação mostrada. Outro ponto que preocupava o diretor, além da imobilidade do personagem, era a sequência de cenas em que a fonoaudióloga dita as letras. Ele tentou ao máximo fazer com que não ficasse repetitivo e desgastante, e ao meu ver, o efeito deu certo.
Considero a escolha do nome genial. Em uma analogia, podemos dizer que ele acabou tendo de viver em um escafandro, mas com a ajuda da médica, ele conseguiu sair e ver o mundo, literalmente com outros olhos. Por fim, devo dizer que O Escafandro e a Borboleta é uma das mais belas estórias que já tive a oportunidade de acompanhar nas telas. É um desses filmes que terminam e você se sente feliz de estar vivo e poder assisti-lo. Uma verdadeira lição!
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