Dirigido pelo cearense Déo Cardoso, Cabeça de Nêgo é um
filme que fala sobre dois assuntos bastante atuais na nossa sociedade: o
racismo estrutural e a precariedade da educação no país. Saulo
(Lucas Limeira) é um garoto introvertido que começa a fazer parte do
grêmio da sua escola, onde alguns estudantes se unem para pedir
melhorias na instituição. Sempre munido do seu celular, ele tenta
registrar as coisas erradas que estão acontecendo, principalmente em
relação às estruturas precárias do lugar e a falta de manutenção.
Após
sofrer com insultos raciais dentro da sala de aula e reagir ao ver a
direção se omitir diante disso (inclusive culpando-o pelo ato), Saulo
decide passar a noite no colégio como forma de protesto. O acontecimento
acaba sendo o estopim de um grande movimento dos estudantes, e logo os
demais colegas de Saulo resolvem aderir à causa, criando um piquete em
frente a escola onde juntam várias reivindicações em uma lista de
exigências.
Algumas críticas do filme são bem pertinentes, como o
fato de um empurrão ser visto como algo muito mais grave do que um
insulto racista, que por sua vez passa sem nenhum tipo de punição. Além
disso, sobram críticas para a má gestão de escolas públicas, a falta de
verbas, e a evasão escolar, que muitas vezes levam alunos, em sua
maioria negros, ao mundo do crime. No fim ainda tem uma crítica pesada
sob a forma que a mídia cobre o ato dos estudantes, de forma parcial e
discriminatória. Me surpreendi bastante com as atuações, e
gostei da relação que se cria entre Saulo e sua professora (Jéssica
Ellen), que o apresenta a várias figuras importantes da luta negra ao
longo da história, como os Panteras Negras, Angela Davis, Nelson
Mandela, entre outros, e suas lutas por igualdade e respeito.
Infelizmente achei alguns núcleos descolados no enredo, como o caso do personagem que ameaça Saulo no começo do filme, ou o próprio aluno que cometeu o ato racista, que depois se junta a ele na luta estudantil e a denúncia grave fica por isso mesmo. Enfim, são detalhes que me desanimaram um pouco, ainda que o filme tenha sim suas qualidades, e um final que deixa a gente apreensivo e revoltado.
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