No início da
década de 1980, a empresa norte-americana Nike era líder na venda de
tênis para corridas, porém existia um mercado muito mais lucrativo em
que ela não conseguia competir de igual para igual com as suas
concorrentes: o do basquetebol, onde as gigantes Converse e Adidas
dominavam as vendas e os patrocínios dos principais jogadores. Coube ao
olheiro da Nike na época, Sonny Vaccaro, tentar mudar este cenário ao
fazer todos os esforços possíveis para fechar um acordo arriscado com a
maior promessa do esporte na época: Michael Jordan, um garoto de 18
anos, recém chegado ao Chicago Bulls para disputar sua primeira
temporada na NBA.
Air: A História por Trás do Logo, novo filme
dirigido por Ben Affleck, conta a história do acordo fechado entre a
Nike e Michael Jordan, e da criação de um dos tênis mais icônicos da
história, o Air Jordan. Obviamente que o roteiro vai muito além disso, e
confesso que me surpreendeu bastante a competência com que apresenta os
temas que propõe. Estamos em 1984, e acompanhamos Sonny (Matt Damon),
que tem como função garimpar jovens promessas do esporte para serem
patrocinados pela empresa. No entanto, ele não tem tido o resultado
esperado há muito tempo, e isso vem incomodando demais o CEO, Phil
Knight (Ben Affleck).
Isso tudo pode mudar quando Sonny fica
obcecado por Michael Jordan, um garoto que chegou badalado do basquete
universitário. Jordan, no entanto, tem uma forte resistência em fechar
acordo com a Nike, pois possui uma nítida preferência pelas duas
concorrentes diretas. A partir de então, Sonny acaba tendo que criar uma
estratégia para convencê-lo de que a Nike seria o lugar certo, e é
quando surge a ideia de fazer um tênis especial com as características
de Jordan, algo jamais feito anteriormente.
O roteiro
de Alex Convey é extremamente dinâmico e divertido, e tem muitas
referências aos anos 1980, não somente na parte estética e nas frases
ditas pelos personagens com alusões à época, como também na excelente
trilha sonora. Affleck acerta em focar a história nos bastidores do
acordo, e não na figura de Michael Jordan, que por sua vez aparece muito
pouco e sempre de costas ou de lado. Aqui ele não é protagonista, até
porque na época ele ainda não era o grande astro que todos nós
conhecemos, e todas as escolhas sobre seu futuro são feitas pelos pais,
Deloris (Viola Davis) e James (Julius Tennon).
Não dá para dizer que o filme faz propaganda da marca, mas cita vários fatos históricos e curiosidades da mesma, como a origem do logo que é usado até hoje e que é reconhecido em qualquer parte do mundo. Porém, é tudo encaixado de maneira bem orgânica na história, mais para situar o espectador do que qualquer outra coisa. O tom pesa mais na hora de falar das concorrentes, e cito como exemplo a clara intenção de mostrar a Adidas como oriunda do nazismo alemão. Algumas outras situações também passam uma imagem de que a Nike seria uma boa empresa, que se preocupa com os atletas, enquanto as outras são gananciosas e só pensam no dinheiro. E se tratando do mundo corporativo, sabemos como isso soa no mínimo controverso.
O filme tem ótimas atuações, com destaque para a dupla
Matt Damon e Ben Affleck. Jason Bateman também chama a atenção ao dar
vida a Rob Strasser, o diretor de marketing da Nike na época. Temos
ainda uma Viola Davis sempre competentíssima, que brilha mais uma vez na
pele da mãe de Michael Jordan. Por fim, Air acaba sendo mais um acerto
nessa carreira interessantíssima de Ben Affleck como diretor, e uma das
boas surpresas do ano até então.
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