sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Crítica: Inshallah a Boy (2023)

 
Com histórias muito humanas e personagens bastante complexos, o cinema realizado nos países do Oriente Médio sempre me impressionou positivamente, e é indiscutivelmente um dos melhores do mundo. Não por acaso, muitos dos filmes lançados na região tem em comum o fato de trazerem mensagens diretas sobre as injustiças cometidas contra as mulheres diante de leis arcaicas e dominadas pelo machismo, provando que o cinema pode sim ser uma ferramenta de mudanças e avanços sociais. Inshallah a Boy, submissão da Jordânia ao Oscar de filme internacional deste ano, é mais um ótimo exemplo disto.



O filme acompanha a história de Nawal (Mouna Hawa), uma mulher que acabou de perder o marido repentinamente. Diante do luto, ela ainda precisa cuidar da filha pequena e lutar para garantir os seus direitos à herança, pois de acordo com as leis do país, a família do marido falecido tem direito a praticamente tudo que ele possuía já que o casal não teve um filho homem. O caso vai parar na justiça, em uma ação perpetrada pelo seu cunhado, Rifqi (Hitham Omari). A partir desse fato inicial, acompanhamos a protagonista em uma verdadeira “descida ao inferno”, como é absolutamente comum nesse tipo de filme, onde precisa enfrentar tudo e todos para ter o mínimo do que lhe é de direito.

Nawal trabalha como cuidadora de idosos, e na residência onde ela está trabalhando no momento, acaba conhecendo Lauren (Yumma Marvan), uma mulher de espírito livre que rechaça viver da maneira tradicional, não aceita ser submissa ao marido, e tem voz ativa na defesa dos direitos das mulheres. Quando Lauren descobre estar grávida de um menino, logo a história das duas mulheres se conectam fortemente, em um roteiro que aparentemente é previsível mas que leva a vários caminhos tortuosos.

 
Em seu filme de estreia, o diretor Amjad Al Rasheed segue uma linha quase convencional, mas de forma alguma soa superficial. Pelo contrário, o filme consegue pôr o dedo na ferida e nos causar um sentimento de revolta diante de um sistema tão desigual para homens e mulheres. E por mais que o tema já pareça batido, ele ainda é extremamente necessário. Se aqui no Brasil algumas leis ainda são ultrapassadas, como a lei da laqueadura que foi alterada só no ano passado e que até então exigia o consentimento de um cônjuge para ser feito o procedimento, imagina em países onde mulheres não tem direito nem mesmo a escolher o que vestir.
 

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