Como bom fã dos Mamonas e de tudo que eles representaram para quem viveu a infância dos anos 1990, eu naturalmente criei boas expectativas para um filme que contaria a história de Dinho, Samuel, Sérgio, Bento e Julio nas telas. E justamente por ser fã, posso dizer com propriedade que Mamonas Assassinas - O Filme é um dos piores (se não o pior) filmes nacionais que eu já assisti na minha vida, e quase um desrespeito com a história dos cinco. São tantas coisas ruins no filme que é até difícil saber por onde começar, mas vamos lá.
Começo pelo roteiro, que é uma bagunça generalizada, e parece um filme feito por um grupo de estudantes para apresentação de algum trabalho (e se eu fosse o professor daria nota zero). Só vendo para crer, mas absolutamente nada funciona desde o primeiro minuto. A transição entre uma cena e outra é absurda, e quem já assistiu Malhação na Rede Globo vai conseguir identificar rapidamente alguns artifícios idênticos que o diretor utiliza aqui nestas transições, que é a tal da musiquinha em volume decrescente que aparece em cada nova troca de cenário. Além disso, nada evolui, e nenhuma cena tem ligação com a próxima, sendo assim continuamente até o final.
Os saltos temporais também não fazem o menor sentido, e há inúmeros erros de sequência, como um personagem segurando um copo e dois segundos depois sua mão estar vazia. Erros totalmente amadores. E por falar em amadorismo, o que são as atuações deste filme? Apesar dos atores principais serem fisicamente parecidos com os personagens reais, é difícil escolher quem está mais superficial em seu papel. A caracterização também está preguiçosa, como nas perucas ridículas que os personagens usam no início do filme, e até mesmo a cenografia se mostra extremamente relaxada, como se tivesse sido tudo filmado em cenários feitos para programas de comédia de baixo orçamento da televisão.
A trilha sonora, que na cinebiografia de uma banda era para ser no mínimo o ponto positivo, também é uma desgraça. O que dizer daquela sanfoninha da música do cantor Rubel, que o diretor insiste colocar em duas cenas dramáticas do filme? Além disso, todo o processo de criação da banda é mostrado da maneira mais artificial possível. É como se as composições tivessem surgido para eles como uma dádiva, pois do absoluto nada eles começam a “improvisar” e saem com as letras prontas, sendo cantada por todos. O roteiro ainda coloca algumas situações pontuais como justificativa para a escolha dos nomes de músicas, como um político chamado Celestino (Jumento Celestino), um xingamento (Cabeça de Bagre), ou até mesmo o apelido do homem que "roubou" a namorada de um deles (Lá vem o Alemão).
E se na comédia o filme já estava penoso de aguentar, quando ele tenta apelar para o drama, focando na história de “redenção” do Dinho, fica ainda mais cafona. Em uma das primeiras cenas do filme, ele é largado pela namorada no meio da rua supostamente por ser um "zé ninguém", numa cena digna de novela mexicana, onde ele sai gritando que um dia será famoso. E é basicamente isso que o faz perseguir a fama a partir de então. Há também outra cena dele com o pai cujos diálogos basicamente são retirados de uma palestra de coach motivacional. Ai, tenha santa paciência, viu. Para não ser injusto, a atuação do Ruy Brissac na segunda parte do filme, quando as cenas são mais centradas nos shows da banda, talvez seja a única parte boa do filme. Ele realmente incorpora aquela loucura já conhecida do Dinho nos shows, e isso acaba sendo legal de ver. No entanto, o desgaste já era tanto, que nem isso conseguiu salvar o filme de ser um desastre completo.
Por fim, para selar o que já estava intragável, temos a adição de uma personagem feminina que namora um dos membros da banda, mas que dá em cima de outro de uma maneira grotesca. Eu confesso que eu ri demais do filme, mas não com ele. São tantas bizarrices que é até difícil imaginar que isso passou por alguma aprovação antes de chegar ao público. Certamente apostaram na nostalgia dos fãs, e o resultado nas bilheterias está aí para comprovar que de certa forma deu certo. Mas uma coisa é preciso dizer: os Mamonas não mereciam uma homenagem tão desagradável e mal feita como essa.
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