sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Crítica: Todos Nós Desconhecidos (2023)


De todas as sensações que o cinema pode nos proporcionar, acredito que uma das melhores é a surpresa. Aquilo que acontece quando você não espera absolutamente nada de um filme e sai da sessão completamente arrebatado, como se tivesse acabado de ver algo que irá mudar a sua vida. Exageros à parte (ou não), Todos Nós Desconhecidos (All of Us Strangers) realmente que me deixou sem palavras durante os créditos finais, e tenho certeza que ainda vai reverberar muito tempo dentro da minha cabeça.


Tratando a solidão da vida adulta de uma maneira melancólica e poética,o filme acompanha Adam (Andrew Scott), um roteirista que mora em um prédio recém construído nas proximidades de Londres. Ele passa seus dias escrevendo e bebendo sozinho, dentro do seu próprio mundo particular e isolado. O prédio em que vive ainda é pouco habitado, e certo dia ele conhece o seu único vizinho, Harry (Paul Mescal), que mora em outro andar. Imediatamente surge uma química entre eles e ambos passam a fazer companhia um para o outro, unindo as suas próprias "solidões".

Paralelo a este relacionamento que surge entre os dois, Adam faz visitas constantes a um casal (Jamie Bell e Claire Foy), que aos poucos se revelam ser na verdade os pais de Adam. No entanto, logo dá para perceber algo estranho: eles aparentam ser mais novos do que ele. A partir de então fica bastante claro a relação de Adam com seus pais, mas não entrarei em mais detalhes para não lançar spoilers. O que posso dizer é que o "retorno" que Adam faz ao seu próprio passado traz uma conexão única com os pais, abordando traumas e assuntos não resolvidos de anos atrás. Um deles é o próprio fato dele ser homossexual e ter finalmente a chance de "sair do armário" para a mãe. Esta, inclusive, é uma das cenas mais bonitas do longa, principalmente pela reação dela. Alguns outros temas também vem à tona, como o bullying que ele sofria na escola e escondia do pai, ou até mesmo segredos pequenos da infância mas que se tornaram muito maiores após a vida adulta. Tudo isso tendo por trás uma atuação incrível e segura de Andrew Scott, e uma trilha sonora que para mim já está entre as mais belas do ano. Apesar da pouca aparição em tela, eu também gostei muito da atuação da Claire Foy (mais conhecida pela série The Crown).


Por fim, Todos Nós Desconhecidos é um filme sobre as nossas memórias, sejam elas felizes ou dolorosas, e o quanto elas nos moldam a ser quem somos. Um mergulho no subconsciente do ser humano, com um final dilacerador. Brilhante trabalho do diretor Andrew Haigh, que com poucos recursos e um elenco de apenas quatro atores, conseguiu fazer um dos trabalhos mais grandiosos e comoventes do ano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário