sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Crítica: Ela (2014)


Escolhido por alguns críticos americanos como o melhor filme de 2013, Ela (Her) traz uma curiosa história de amor entre um homem e um... sistema operacional. Calma, calma, eu sei que isso soa estranho, mas ao longo da crítica vocês irão entender melhor do que eu estou falando.


Na trama, Theodore Twombley (Joaquin Phoenix) é um rapaz melancólico, que trabalha escrevendo cartas bastante pessoais e poéticas para outras pessoas enviarem em nome delas. Antissocial e recluso, todo dia ele faz apenas o trajeto de casa para o trabalho, e sua única diversão é jogar o videogame ultra moderno que ele tem na sala de casa.

Aliás, basta olhar para o tal videogame, de alta dimensão, para percebemos que estamos num mundo futurista, mas um futuro não muito distante assim, se analisarmos o que nossa tecnologia de hoje já é capaz de fazer. Além do videogame, Theodore usa diariamente um sistema em seu smartphone que faz tudo que ele quer, usando apenas com comandos de voz. Notícias ou e-mails, tudo é lido em seu ouvido por uma voz.


Certo dia, uma gigante das comunicações cria um sistema operacional chamado de OS1, que possui inteligência artificial suficiente para se comunicar com os seres-humanos de forma interativa. Logo, Theodore compra o programa, e sua primeira escolha é que a voz de seu sistema seja feminina. É então que surge Samantha (Scarlett Johansson), cuja voz passa a acompanhá-lo aonde ele vai.

Com ela, ele desabafa e conversa sobre tudo que se possa imaginar. Fala bastante sobre sua vida passada, onde era feliz com sua ex-mulher, e o quanto o tempo foi corrosivo para a relação. O diretor Spike Jonze (de Quero Ser John Malkovith) utiliza também alguns flashbacks desse momentos em que ele viveu com Katherine, para salientar a nostalgia que o personagem se vê afundado. No entanto, é perceptível o fato dele parecer bem mais alegre com a vida depois dessa nova mudança.


Aos poucos, a inteligência artificial de Samantha vai aumentando, e ele consequentemente vai se apaixonando por ela. Principalmente por ela ser a única "pessoa" que lhe ouve, e que lhe faz rir. É interessante esse paralelo que Jonze faz com o que acontece hoje em dia. Basta paramos em um lugar público hoje, para vermos milhões de pessoas conectadas aos seus próprios "OS1". Pessoas que saem de casa e não desgrudam os olhos do seu smartphone nem para ir ao banheiro ou atravessar a rua.

Outra coisa interessante é o fato de Theodore escrever as tais cartas. Ele põe emoção no que escreve, e com ajuda do computador, imita perfeitamente a caligrafia do verdadeiro remetente. Uma crítica ácida de Jonze a respeito do uso cada vez menos constante da escrita, querendo dar a entender que no futuro, ninguém mais saberá escrever bem, e precisará da ajuda de outros para tanto.


Dá para se dizer que é um filme de um homem só. Apesar de outros personagens também aparecerem, ainda que esporadicamente, Theodore é a cara do filme. Joaquin Phoenix se saí muito bem no papel desse homem misterioso, cujo único desejo era ter alguém para dividir a cama, e a vida.

Com ares de filme independente, Ela é um misto de drama, comédia e ficção científica, em um filme cheio de diálogos reflexivos. Achei curiosíssima a escolha dos figurinos, e impecável todo o seu visual. No entanto, apesar de todas essas qualidades, achei o filme um pouco arrastado demais, o que pra mim, comprometeu um pouco o resultado final.


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