sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Crítica: O Lobo de Wall Street (2014)


Diferente de outros diretores que se "venderam" com o tempo e passaram a fazer filmes politicamente corretos em busca do grande público, Martin Scorsese parece nadar contra a maré, e mesmo septuagenário, continua com o mesmo estilo sacana que tinha nos saudosos anos 80 e 90. Em O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street), ele traz um filme tão polêmico e amoral quanto seus maiores clássicos Os Bons Companheiros, Táxi Driver e Cassino.



Não é de hoje que me considero fã do diretor, assim como sou do ator Leonardo DiCaprio. Por isso, quando os dois se juntam em um mesmo trabalho, é impossível não criar uma expectativa enorme em cima disso. E o melhor? Eles sempre se superam.

A trama do filme conta a história de Jordan Belfort, um ex-corretor da bolsa de valores que ganhou milhões de dólares nos anos 90, explorando brechas no sistema e enganando milhares de pessoas. Assim como no livro homônimo, de onde a história á adaptada, Belfort é um personagem onisciente, que vai nos narrando sua história, desde o começo na carreira.



Aos 22 anos, ele conseguiu emprego numa grande firma de investimentos, onde era comandado por Mark Hanna (Matthew McConaughey). Através de Hanna, Belfort começou a conhecer os caminhos mais fáceis de como se dar bem no mercado financeiro. No entanto, logo no seu primeiro dia como corretor acontece o famoso Black Monday, onde por conta da queda brusca de ações, diversas firmas do mesmo tipo foram à falência, inclusive a que ele trabalhava.

Desempregado, mas sem jamais perder a ambição, ele conseguiu emprego numa firma pequena, de fundo de quintal, onde acabou se destacando graças a sua habilidade incomum de enganar os clientes. Com a ajuda de Donnie (Jonah Hill), a empresa cresceu desmedidamente, e ganhou um nome: Stratton Oakmont. Comandando a empresa, Belfort foi se tornando cada dia mais milionário. Seu truque porém era bastante simples: vender ações de baixos valores que estão fora dos pregões e, consequentemente, conseguir um retorno bem maior pros corretores em forma de comissão.



Sem fazer nenhum tipo de julgamento moral, o diretor enche nossos olhos com cenas absurdas e cheias de excessos, mostrando todo o tipo de depravação que o dinheiro é capaz de fazer. Festas regadas a muita droga, álcool, prostitutas, luxo, e orgias despudoradas. Tudo isso faz parte do circo de horrores que vemos aos longo das suas 3 horas de duração, em um verdadeiro espetáculo do uso incontrolável de dinheiro.

A ambição de Belfort também é incontrolável, e mesmo aparentemente tendo tudo, ele ainda quer mais. Isso acaba trazendo alguns problemas, principalmente com o FBI. É quando ele precisa correr para dar um "jeitinho" de se livrar das grades, se envolvendo com um esquema de lavagem de dinheiro e conta em bancos suíços.


Todos os personagens são desprezíveis, e não podem ser considerados um exemplo a ser seguido. Scorsese recebeu diversas críticas, principalmente por parte dos críticos mais conservadores, que o acusaram de idolatrar a figura do mau caráter. Mas basta ser esperto o bastante para não cair nessa. O filme com certeza não vai agradar muita gente, pois o que vemos em cena é realmente um estilo de vida que muitos nem imaginariam existir.

Outro ponto interessante é a forma com que a história é contada. Até então, diversos filmes já haviam sido lançados sobre o fraudulento mundo dos investimentos financeiros, mas verdade seja dita, quase todos são bastante chatos e entediantes. Muitos falam da bolsa de valores de forma técnica, o que deixa qualquer leigo boiando na estória em apenas 10 minutos. Aqui, no entanto, Scorsese consegue fazer um filme leve, divertido, e sem entrar muito nos detalhes de como tudo acontece.


Leonardo DiCaprio está, mais uma vez, impecável. Entre tantas atuações fora do comum da sua carreira, essa parece ser uma das melhores. É difícil dizer isso depois de ver o filme, mas talvez nenhum ator fizesse o mesmo personagem de forma tão perfeita. Se mais uma vez a Academia ignorar seu nome, estarão assinando definitivamente o atestado de ignorância no assunto.

Porém, não é só DiCaprio quem brilha. Jonah Hill, o ator que mais faz papéis de coadjuvante, novamente se destaca com um personagem bastante engraçado e bem construído. Tem ainda a pequena mas excelente participação de Matthew McConaughey, como o mentor de Belfort, Jean Dujardim como o banqueiro suíço Jean-Jacques Saurel, e a linda Margot Robbie como esposa de Belfort.

Sobre a parte técnica, destaco a fotografia, com ambientes luxuosos bem construídos, dando maior realidade à história contada, e a trilha sonora, com músicas de rock n' roll conhecidas do público. O enredo, escrito primorosamente por Terence Winter, também é arrebatador.



Por fim, O Lobo de Wall Street é mais um grande acerto dessa carreira já brilhante do diretor. Aliás, esse talvez seja o melhor trabalho de Scorsese em muitos anos. É maravilhoso saber que ainda existem cineastas corajosos como ele, que não tem medo de crítica e põem a cara a tapa, rompendo com o cinema americano certinho.


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