sexta-feira, 25 de março de 2022

Crítica: Está Tudo Bem (2022)


Baseado no livro homônimo escrito por Emmanuèle Bernheim, amiga próxima e grande colaboradora do diretor François Ozon, Está Tudo Bem (Tout s'est bien passé) narra um período na vida da própria escritora em que seu pai, logo após sofrer um AVC e ficar debilitado, pediu para que ela o ajudasse a morrer. Nesta mesma semana vimos a notícia do astro do cinema francês Alain Delon, que fez o mesmo pedido ao seu filho, e o filme de Ozon serve como mais um recorte nesta importante discussão a cerca do assunto.


A eutanásia é um procedimento permitido em apenas cinco países do mundo, e em quatro estados dos Estados Unidos, sendo desta forma uma realidade um pouco distante da nossa. Mas o direito de optar por uma morte digna para aliviar um sofrimento, seja por causa de uma doença ou simplesmente pelas consequências da velhice, é uma discussão universal, e nunca deixou de ser pauta entre médicos e juristas. Afinal, envelhecer pode até ter o seu encanto, mas também tem suas dores, e quanto envolve uma enfermidade ainda tem também a parte da degradação do corpo e o fato da pessoa deixar de se reconhecer no mesmo.

No filme, André (André Dussollier) fala sobre isso em um certo momento, quando deixa claro que optou por morrer porque não se enxerga mais na pessoa que já foi um dia. E de fato, ele está certo. O simples ato de conseguir sentar sozinho em uma poltrona vira motivo de comemoração para a filha Emmanuèle (Sophie Marceau), que junto com a irmã Pascale (Géraldine Pailhas), corre para tentar realizar o desejo do pai, mesmo estando contrariadas. 

É interessante acompanhar esse processo de luto antes da morte, que vai desde os preparativos até as despedidas, e não tem como não pensar que deveríamos todos ter a chance de poder fazer isso com nossos entes queridos, ao invés de vê-los partirem de repente. Mas ao mesmo tempo, me fez refletir sobre como jamais podemos deixar para se aproximar ou demonstrar carinho por quem gostamos apenas quando o fim é iminente, como a personagem de Pascale, que havia se afastado do pai por muito tempo e agora sente um certo peso da culpa.

 


O roteiro não possui nenhuma reviravolta ou surpresa, e se contenta apenas em mostrar o dia a dia dessa família, do primeiro dia de internação do pai até o derradeiro dia. Infelizmente a relação de André com sua ex-mulher Claude (Charlotte Rampling) acaba sendo tratada muito superficialmente, assim como os motivos que fazem a relação das filhas com o pai ser um pouco distante e sem afeto. Nem mesmo os flashbacks inseridos conseguem aprofundar essas questões, ficando tudo para a interpretação de quem assiste. Por esses motivos, não considero o melhor trabalho do Ozon na direção, mas seus ótimos trabalhos como Frantz (2016) e Graças a Deus (2018) o deixaram com bastante crédito.


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