Recordista de
indicações no Goya, principal premiação do cinema espanhol, e
representante do país no Oscar 2022, O Bom Patrão (El Buen Patrón) é uma
ótima comédia ácida sobre a falsa moralidade que existe nas relações
empregado/patrão.
A trama acompanha Blanco (Javier Bardem), dono
de uma empresa consolidada e bem sucedida que fabrica balanças de todos
os tipos. Aliás, o equilíbrio e a precisão das balanças é algo que
Blanco costuma levar metaforicamente para tudo na vida. Apaixonado pelo
que faz, ele não deixa de lembrar a todo momento o quanto esses valores são
importantes, e gosta de tratar os seus funcionários como membros da
família, abraçando seus problemas particulares e tentando inclusive
resolvê-los pelo bem estar de todos.
O ambiente aparentemente
tranquilo da empresa é ameaçado quando um funcionário (Óscar de la
Fuente) não aceita a sua demissão e monta um acampamento na frente do
local, fazendo de tudo para tentar botar abaixo a reputação de "empresa
comprometida com o ser humano" que Blanco tanto prioriza manter intacta.
E tudo isso acontece às vésperas da fábrica receber a visita de um
comitê que vai avaliar uma premiação que Blanco sonha há anos conquistar
para colocar na sua parede de troféus.
O sorridente empresário
pode até ser um grande chefe, mas como todo bom patrão, na hora do
aperto ele vai passar por cima de qualquer um para defender a saúde
financeira da sua empresa. E é exatamente aí que começam as críticas do
filme, todas feitas com muito sarcasmo e bom humor. Apesar de não ter um
viés político declarado, o filme faz uma crítica nas entrelinhas ao
modo perverso que o mundo capitalista age para defender os seus
interesses.
Javier Bardem está impecável na pele deste
personagem cheio de camadas e surpresas. O tempo todo Blanco tenta
mostrar que é um homem sério, de caráter irretocável, mas suas atitudes
por debaixo dos panos deixam evidente que não é bem assim. O "clichê" do
caso extraconjugal com uma estagiária (Almudena Amor) também tem um
papel interessante na trama, como se tirasse de vez essa sua máscara da
moralidade.
Gosto também da crítica feita aos defensores da "meritocracia", quando Blanco dá a entender que merece mais do que ninguém estar onde está e ter uma empresa de sucesso, e uma pessoa da família rebate dizendo que ele já recebeu tudo pronto do antigo dono, que no caso era o seu próprio pai. Por fim, O Bom Patrão tem o tipo de humor que me agrada muito ver em um filme, pois ao mesmo tempo em que faz rir, também desenvolve o pensamento crítico e traz questionamentos pertinentes à sociedade atual. Um dos filmes mais bacanas e envolventes que assisti até então no ano.
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