Descobrir que você tem
uma doença terminal e que consequentemente tem pouco tempo de vida deve
ser algo terrível, sobre o qual não consigo nem mensurar. Tão terrível
quanto deve ser o sentimento de quem fica, e precisa seguir em frente
guardando o amor apenas nas lembranças. Mas e se você tivesse a
oportunidade de colocar um clone absolutamente igual a você no seu lugar
para continuar sua vida de onde parou, e dessa forma pelo menos
preservar os outros de sentir essa dor? Essa é uma questão delicada e
muito difícil de ser respondida, e é o que move O Canto do Cisne (Swan
Song), longa-metragem de ficção científica que marca a estreia do
realizador irlandês Benjamin Cleary.
"Swan Song" é uma expressão
da língua inglesa que fala justamente sobre o último gesto ou ato de
alguém antes de morrer, e o dilema em aceitar ou não esta solução
tecnológica para a morte cabe todo a Cameron (Mahershala Ali), que não
conta para a família sobre sua doença e precisa decidir o quanto antes
se vai optar pela alternativa ou não. Quem opera a empresa de clones em
um lugar completamente isolado (já que aparentemente o negócio é ilegal e
está em fase de testes) é a médica Jo Scott (Glenn Close), que faz
questão de mostrar todos os detalhes de como funciona a criação do clone
e a troca, bem como o fato de que a família não terá como desconfiar de
nada.
O enredo se passa em um futuro distante e dá para perceber
pelos cenários, pelos carros modernos e por algumas tecnologias que
ainda não temos, como a lente de contato com câmera embutida. Além, é
claro, da própria clonagem humana, algo que até então já foi muito
discutido mas que ainda não foi de fato comprovado ser possivel. A
atmosfera do filme segue a mesma linha de séries que abordam as
consequências das tecnologias nas nossas vidas, como por exemplo Black
Mirror, e quem gosta desses temas certamente vai ter uma experiência
agradável. A narrativa no entanto é bem lenta, e é preciso ter paciência
para ir adentrando neste universo.
Mahershala Ali está muito bem, tanto no papel do protagonista como no do seu clone, e até esperava uma nova indicação ao Oscar. Destaque também para Awkwafina, que faz uma personagem à beira da morte que optou pela escolha e está assistindo de longe sua família seguir a vida sem ela. Por fim, Swan Song é claramente um filme que fala da morte, mas eu consigo ir além na analogia e entender ele como um filme que fala sobre fins de ciclos, e sobre seguir em frente quando não nos sentimos mais bem-vindos em algum lugar, seja em um relacionamento amoroso ou até mesmo na casa onde crescemos.
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