sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Crítica: Aftersun (2022)


Baseado em suas próprias memórias de infância, a diretora Charlotte Wells faz uma grade estreia na direção de um longa-metragem com Aftersun, filme de extrema sensibilidade e que fala muito com poucas palavras.


Na trama, Sophie (Frankie Corio) tem 11 anos e vai passar as férias com o pai, Calum (Paul Mescal), em um resort na Turquia. Eles aparentemente fazem isso desde os cinco anos de idade dela, mas sempre indo a lugares diferentes. Com um desenvolvimento lento, pouco a pouco vamos descobrindo mais a respeito da história de vida e da relação dos dois, através de pequenos diálogos e situações. É dessa forma que ficamos sabendo que Calum e a mãe de Sophie não estão mais juntos há um bom tempo, e que ele não mora mais na Escócia, o país natal deles. São detalhes que vão moldando a personalidade de cada um, e mostrando ainda mais o porquê dessa viagem ser tão importante para os dois.

Sophie é uma garota que tem muita curiosidade sobre o mundo, como toda criança de 11 anos. Inclusive vive perguntando ao pai o que ele faria em determinadas situações se tivesse a idade dela, ou o que ele lembra de ter feito quando também tinha 11 anos. O que vemos no fundo é uma relação pai e filha muito emocionante, que poderia facilmente apelar para o melodrama mas foge completamente disso. Ainda bem. O roteiro inclui alguns flashes curtos, que mostram Sophie já adulta, e passam a ideia de que o que estamos vendo ao longo de todo o filme na verdade não passa de uma memória sua, literalmente. Os diálogos são muito orgânicos, e as atuações são fascinantes. É tudo tão real que parece até que estamos realmente  acompanhando um documentário sobre a viagem de um pai com a sua filha, e isso se dá pela ótima química que existe entre os atores.


As vezes nós temos vagas lembranças do tempo de criança, e há situações que nos marcam para sempre, sejam boas ou ruins, e essa viagem certamente marcou a diretora, que tenta trazer tudo com a visão pueril e inocente de sua versão pequena. Algumas cenas tocam fundo no coração, como a cena em que os dois dançam Under Pressure, ou a cena do Karaokê. Impossível ficar indiferente. E é justamente por momentos como esses que Aftersun se tornou tão amado pelo público em geral, em um reconhecimento mais do que merecido.

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