Darren Aronofsky é um diretor bastante divisivo, e eu mesmo posso dizer que tenho uma relação de amor e ódio com suas obras. Gosto muito de O Lutador (2008) e considero Réquiem para um Sonho (2000) uma obra-prima, mas em contrapartida detestei alguns de seus filmes mais recentes como Cisne Negro (2010) e Mãe! (2017). Por conta disso, tentei não criar muita expectativa antes de assistir A Baleia (The Whale), mas desta vez já adianto: apesar de algumas ressalvas, eu gostei bastante do que vi.
O
filme acompanha uma semana na vida de Charlie (Brendon Fraser), um
homem obeso que pesa mais de 250 quilos e vive recluso em seu pequeno
apartamento, onde ganha a vida dando aulas online de redação. De cara já
percebemos que ele sente muita vergonha do próprio corpo, já que sequer
liga a câmera na hora das aulas, dando a desculpa para os alunos de que
ela está estragada. Ele também evita encontrar o entregador de comida, e
obviamente não gosta de receber visitas. A única pessoa que o acompanha
diariamente é Liz (Hong Chau), que leva mantimentos e o ajuda fazendo
as tarefas básicas de casa, já que a mobilidade dele está extremamente
reduzida. Em um primeiro momento ela até parece ser alguém contratada
para o serviço, mas pouco a pouco vamos entendendo o grau de parentesco
que existe entre eles, na medida em que o passado de Charlie começa a
vir à tona.
Alguns anos atrás, Charlie largou sua esposa e sua
filha de oito anos para viver com um ex-aluno, que um tempo depois veio a
falecer. Desde sua morte, Charlie nunca mais foi o mesmo, tendo se
afundado em uma depressão profunda que o levou a condição de obesidade.
Sua filha (Sadie Sink), quando o reencontra depois de tanto tempo, nem o
reconhece, e sente um misto de desprezo por ele ter se deixado chegar
nessa situação e raiva, por ele ter abandonado ela pequena. Essa relação
conflituosa vai ganhando forma quando, em troca da companhia dela
durante o dia, ele a oferece dinheiro, e também promete fazer seus
deveres de casa.
Na parte técnica, é interessante analisar como Aronofsky usa uma tela 4x3 durante todo o filme, o que ajuda a criar um ambiente claustrofóbico e retrata ainda mais o sentimento de angústia do personagem. São espaços pequenos, escuros e melancólicos, assim como é a vida de Charlie. Mas é curioso também como apesar de todo o trauma e sofrimento, o personagem ainda continua com o coração puro, vendo bondade no mundo e sempre tendo uma visão otimista das coisas. A atuação do Brendon Fraser é, de fato, magistral, mas destaco também Hong Chau e Samantha Morton. Já Sadie Sink não me convenceu, mas creio que isso também seja culpa da sua personagem mal construída.
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