quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

Crítica: Contratempos (2022)


A realidade, quando mostrada na tela, muitas vezes pode ser mais angustiante do que um enredo de terror. Com uma estrutura que me lembrou muito os filmes do Ken Loach ou dos irmãos Dardenne, Contratempos (À Plein Temps), do francês Éric Gravel, acompanha a rotina desgastante de uma mulher que tem dois filhos pequenos e precisa lutar diariamente para cuidar deles e ainda manter seu emprego em um hotel cinco estrelas de Paris.

Julie (Laure Calamy) acorda todo dia mais cedo do que o normal para poder arrumar as crianças e deixá-las com a vizinha, que cuida delas durante o dia e também fica responsável por levá-las para a escola. Por morar em um vilarejo distante da capital francesa, ela precisa enfrentar o transporte público lotado por um longo período, o que faz sua jornada ser ainda mais cansativa. Para piorar, a região metropolitana de Paris está vivendo um caos por conta de uma greve geral contra o aumento da carga horária dos trabalhadores, o que ironicamente dificulta a vida de quem mais precisa de locomoção para ir trabalhar. No meio disso tudo, Julie também está tentando um novo emprego, que promete pagar melhor e ter mais dinamismo nos horários, o que permitiria ela passar mais tempo com os filhos.


O ritmo do filme é extremamente frenético, o que passa ainda mais a ideia de sufocamento que Julie enfrenta diariamente, desde a hora que o despertador toca pela manhã até a hora em que chega em casa, já tarde da noite. O trabalho de construção da personagem é elogiável, é muito se deve à excelente atuação de Laure Calamy, premiada como melhor atriz em Veneza. Ela é o retrato de milhões de pessoas que saem todo dia de casa para trabalhar e que precisam tirar forças de onde menos se espera para enfrentar todas as dificuldades que aparecem pelo caminho. E o que nos resta é apenas torcer para que, pelo menos no filme, isso tenha alguma recompensa no final.

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