Novo filme do veterano
diretor polonês Jerzy Skolimowski, "EO" estreou no Festival de Cannes de
2022 e deu o que falar, levando inclusive o Prêmio do Júri nesta
edição. Acompanhando a jornada de um burro por lugares ermos da Polônia,
o diretor tenta mostrar, pelos olhos do próprio animal, como é dura,
melancólica e solitária a vida de um ser que, de uma maneira geral, só é
"usado" por nós humanos.
Eo é o nome do burrinho, que acaba
sendo o grande protagonista do filme. Mas não se engane, pois não se
trata de um filme "hollywoodiano" em que animais falam e fazem coisas
além do que se espera deles. Diferentemente disto, a forma com que o
diretor nos apresenta Eo é extremamente realista e ao mesmo tempo
humana, com foco em suas expressões e principalmente nos seus olhares, e
é impossível não criar uma empatia com ele logo de cara.
Apesar
do roteiro ser centrado em um personagem que não fala, o filme apresenta
muitos humanos que no decorrer da trama vão interagindo com o burro, de
uma forma boa ou ruim. No início, ele fazia parte de uma atração
circense, onde fazia dupla com a jovem Kasandra (Sandra Drzymalska). E
apesar de ser um ambiente de maus tratos, foi onde ele acabou sendo mais
amado, já que Kasandra lhe dava muito amor e carinho. Após a dissolução
do circo, Eo foi vendido para uma fazenda, mas logo consegue fugir do
local tentando justamente ir atrás da menina. Sem conseguir, ele fica
apenas vagando sem rumo por aí, passando de mãos em mãos, e virando até
mesmo uma espécie de "mascote da sorte" de um time de futebol. Tudo isso
antes de sentir na pele toda a violência e a maldade que o ser humano é
capaz.
Não é um filme fácil, sobretudo para quem gosta de animais e consegue enxergar em Eo toda a dor de uma vida esvaziada. O final, confesso, me deixou arrasado, ainda que já fosse o esperado. Durante uma hora e meia, Eo "grita" na tentativa de se comunicar com o mundo exterior e com os demais animais, e principalmente para ser ouvido. Mas, assim como a causa animal, ele também é muitas vezes ignorado, e esta é a grande reflexão que fica no final.
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