quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Crítica: Bruno Reidal, Confissões de um Assassino (2022)


Baseado em um caso real ocorrido em Cantal, na França, no ano de 1905, "Bruno Reidal: Confissões de um Assassino" conta a história do personagem que dá nome ao filme, interpretado por Dimitri Doré, que na primeira cena do filme vai até a delegacia para confessar um crime horrendo que cometeu contra outro jovem do seu vilarejo.

Para tentar entender a motivação para o crime e desvendar a mente do assassino, três médicos ordenam que Bruno escreva suas memórias enquanto está na prisão, reconstituindo com detalhes sua infância e adolescência. Com isso, decidirão se ele deverá continuar como um preso comum ou se deverá ser internado em uma clínica psiquiátrica. Através dos relatos escritos pelo jovem, eles vão identificando as anomalias no comportamento do acusado e os eventos específicos que foram moldando sua forma violenta de ser, e vamos acompanhando toda essa reconstituição através de flashbacks.

Em uma família de mais cinco irmãos, Bruno desde cedo precisou trabalhar para ajudar no trato dos animais e na colheita, e a perda do pai aos 10 anos, única fonte de afeto que ele teve na vida, ainda que pouco, foi algo que pesou demais no seu comportamento. Seus primeiros pensamentos sobre a morte começaram quando ele via os porcos sendo mortos no quintal de casa, e o impulso foi crescendo quando ele se tornou bolsista em um seminário e passou a sofrer descriminação por ser o único aluno de classe baixa no local. Diante disso, ele imaginava a morte de seus colegas com requintes de crueldade, mas nunca havia chegado às vias de fato.

Na medida em que foi amadurecendo, uma série de novas situações violentas foram aumentando ainda mais esse seu desejo mórbido. Mais do que isso, foi misturando o desejo de matar com um incontrolável desejo sexual. Para contar a história, o diretor usou os próprios escritos de Bruno e os laudos médicos da época, e o filme acaba sendo uma viagem imersiva muito intensa através da mente de um assassino. E por ser extremamente realista, possui cenas bem pesadas, como a cena em que Bruno sofre um abuso sexual na infância ou a própria cena do assassinato que ele cometeu.


Muito mais que um filme biográfico ou um filme de crime real, é uma verdadeira anatomia de uma mente psicopata. O diretor indaga até quando o contexto social e os traumas afetam a mente de alguém na juventude, ao ponto da pessoa adquirir estes traços de psicopatia, e o quanto disso já vem de berço e da própria personalidade do assassino quando criança. É fascinante acompanhar essa escalada da violência na cabeça de Bruno, mas também amedrontador.
 

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