A indicação de Andrea
Riseborough ao Oscar de melhor atriz pegou a todos de surpresa e gerou
uma grande polêmica por conta da forma como foi feita a sua campanha de
divulgação: através do famoso boca a boca entre os membros da Academia e
também pelas redes sociais, o que foge totalmente da regra. Discussões à
parte, o fato é que se analisarmos apenas a sua atuação, a indicação
acaba sendo realmente merecida, já que ela realmente brilha em uma
história simples mas bastante tocante.
Em "To Leslie", filme do
diretor Michael Morris, Riseborough interpreta uma mãe solteira que
ganhou 190 mil dólares em uma loteria local. O filme logo dá um salto de
seis anos, onde vemos Leslie totalmente desequilibrada, sendo despejada
de um quarto de motel por não pagar o aluguel, e sofrendo duramente as
consequências de suas escolhas erradas do passado. Ela nitidamente não
soube administrar a bolada que recebeu e torrou tudo em muito pouco
tempo, sobretudo com álcool. Sem emprego, sem casa, e portando apenas
uma maleta com seus objetos pessoais, ela vive uma realidade decadente e
sem futuro, e quando recebe oportunidades parece fazer questão de jogar
tudo fora.
Após passar por situações muito delicadas e chegar a
ter que dormir na rua, Leslie acaba recebendo a grande chance de
finalmente reencontrar um rumo na vida ao ser admitida para trabalhar
como arrumadeira em um motel de estrada, em troca de um pequeno salário e
de poder dormir no local. A partir de então se cria uma relação
amigável e curiosa entre ela e Sweeney (Marc Maron), o homem que lhe dá o
emprego e que administra o local junto com o dono, Royal (Andre Royo).
A
protagonista é muito humana e divide os sentimentos do espectador a
todo momento. É interessante como você acaba torcendo para que ela se
encontre e consiga ter uma vida melhor, mas ao mesmo sente repulsa por
algumas das suas atitudes, sobretudo com o filho James (Owen Teague). Ao
voltar para a sua terra natal, todos a olham com um certo desprezo,
quase como se a considerassem uma louca, o que acaba sendo até
justificável pela sua própria conduta.
Durante as duas horas do filme, Leslie é usada por outras pessoas, mas de certa forma também se aproveita de outras, e sempre carrega uma amargura muito grande do mundo que a cerca, que é bem perceptível em seu olhar. E é aí que entra a grande atuação de Riseborough, que conduz com maestria essa personagem tão complexa e de personalidades tão contrastantes, e que por si só já faz valer o filme inteiro. Diferentemente da indicação, se ela ganhar o prêmio no Oscar não será surpresa alguma.
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