quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Crítica: Carvão (2022)


Marcando a estreia em longa metragem da diretora Carolina Markowicz, Carvão nos leva para o mais profundo interior do Brasil, e acompanha uma família que vive em uma casa muito simples e sobrevive de uma pequena carvoaria que possui no pátio. Irene (Maeve Jinkings) é quem comanda tudo com pulso firme, mas junto dela vive o marido Jairo (Rômulo Braga), o filho pequeno do casal (Jean Costa) e o pai dela, que está em uma cadeira de rodas praticamente inválido.


A vida desta família humilde muda quando eles recebem uma proposta um tanto quanto inusitada: abrigar um estrangeiro, chefe do tráfico no seu país, que precisa se esconder em um lugar ermo após algo aparentemente dar muito errado com seu negócio. Vendo como uma oportunidade de ganhar um dinheiro em troca, eles aceitam abrigar o homem (Cesar Bordón), e tem uma única missão: mantê-lo longe da vista da vizinhança.

A tarefa parece fácil, mas é justamente aqui que as características da vida em uma cidade tão pacata começam a ganhar força. Em um lugar isolado e pequeno desse jeito, todos os moradores acabam se conhecendo, e consequentemente tem a liberdade de entrar e sair da casa um do outro, como se fossem todos membros de uma grande família. Mas como mudar este comportamento de uma hora para outra e impôr limites para que ninguém veja o visitante em casa, sem parecer estranho aos demais?

A atuação de Maeve Jinkings é espetacular na pele dessa mãe de família que possui muita autoridade, mas ao mesmo tempo muita doçura. O menino também é um personagem adorável, e acaba sendo responsável pelos diálogos mais engraçados do filme. É um humor bem inocente e nada forçado. Outro destaque é o argentino Cesar Bordón, que eu já conhecia do cinema feito no país vizinho e que aqui tem uma participação muito marcante. Seu personagem acaba despertando sentimentos diversos em cada um dos membros desta família, inclusive no menininho, que enxerga nele uma figura paterna de afeto, já que o pai é bem distante disso.

Assim como em Marte Um, o filme que acabou sendo o escolhido para representar o Brasil no Oscar, aqui também temos um retrato bem realista de uma típica família brasileira, com seus problemas, seus medos e seus segredos, e tudo feito de uma maneira muito orgânica, sobretudo pela ótima ambientação. Algumas escolhas narrativas me pareceram um pouco forçadas do meio para o final, o que justifica o filme não levar a nota máxima aqui. Também queria ter visto um pouco mais de desenvolvimento dos personagens secundários, como o da Camila Márdila. Ainda assim, trata-se de mais um grande exemplar do nosso cinema atual, cheio de camadas e extremamente envolvente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário