terça-feira, 14 de março de 2023

Crítica: Desaparecida (2022)


Das mesmas mentes criativas responsáveis por Buscando…(Searching…), surge Desaparecida (Missing), um filme ainda mais frenético que segue o mesmo formato "screen life" de contar a história através das telas do notebook, do celular e de outros gadgets utilizados pela protagonista, e que consegue mais uma vez criar um clima de suspense e tensão muito envolvente.



O filme acompanha June (Storm Reid), que vive há anos apenas com a sua mãe, Grace (Nia Longe), depois que seu pai morreu precocemente quando ela ainda era criança. June é uma típica adolescente da geração atual: teimosa, não dá atenção para a mãe, só quer saber de festa com as amigas e passa o dia entre uma rede social e outra. Quando a mãe viaja para a Colômbia com o novo namorado, Kevin (Ken Leung), June fica responsável por recebê-los de volta no aeroporto, mas quando chega o dia eles simplesmente não retornam e somem do mapa. Esse é apenas o ponto de partida de uma trama cheia de reviravoltas que vão, pouco a pouco, trazendo à tona o que verdadeiramente aconteceu com os dois.

Para tentar descobrir o paradeiro da mãe, a menina recorre a todos os tipos de alternativas existentes na internet. Se em Buscando…, o personagem já utilizava muitas dessas tecnologias ao seu favor, aqui existem ainda mais possibilidades, afinal de contas, o avanço tecnológico não pára nunca e em cinco anos muita coisa já mudou. Desde simples buscas no Google, ou até mesmo assistir câmeras de segurança com transmissão ao vivo de locais turísticos, tudo que está ao alcance de June através da web acaba sendo explorado, chegando até mesmo ao ponto dela utilizar um site de contratação de serviços online para contar com a ajuda de um morador local, Javier (Joaquim de Almeida).

É curioso acompanhar também o papel das redes sociais em todo esse processo. Ao mesmo tempo em que está sofrendo com o sumiço da mãe, June ainda tem que lidar com as diversas teorias criadas no twitter por gente que não faz ideia do que está acontecendo mas precisa dar o seu pitaco, com os vídeos no Tik Tok falando inverdades sobre sua mãe para ganhar views e likes em cima da tragedia alheia, e até mesmo com a mídia sensacionalista.

Com muitos "plot twists", o roteiro consegue prender a atenção até o final e não perde o ritmo em momento algum. É evidente que a nossa relação com a internet acaba sendo o mote central da trama, já que hoje, de fato, qualquer coisa que precisamos saber nós corremos imediatamente para o Google ou para o YouTube, e a cada dia a gama de opções e recursos cresce mais para facilitar nossas vidas. Mas outro ponto abordado pelo filme (e talvez o principal) é a relação entre pais e filhos, cada vez mais distante, e muito disso justamente pelo próprio avanço da tecnologia. Irônico, não é mesmo? E apesar do roteiro acabar apelando para o velho clichê do "aproveite seus pais enquanto ainda estão vivos", temos uma boa discussão a respeito disso. 


O grande destaque no elenco é Storm Reid, que consegue entregar uma boa atuação mesmo em um formato tão incomum de cenários e ângulos. Por mais que tenham alguns exageros e algumas facilitações, Desaparecida consegue manter o mesmo nível do antecessor, mesmo com diretores diferentes envolvidos, e surpreende pela originalidade.

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