Viver (1952), dirigido por Akira Kurosawa, é um dos mais belos filmes já feitos em todos os tempos, e a reflexão que ele traz sobre a vida e principalmente sobre a finitude dela é algo que fica para sempre na lembrança de quem o assiste. Mais de setenta anos depois, o filme ganhou uma refilmagem tão sensível quanto nas mãos de Oliver Hermanus, mas que infelizmente carece de alma e não consegue alcançar o mesmo nível do clássico, tanto na parte técnica quanto na parte sentimental.
Living conta
praticamente a mesma história do longa de 1952, mas desta vez ambientada
na cidade de Londres. Na trama, acompanhamos o Sr. Williams (Bill
Nighy), um homem que trabalha há décadas no setor de obras da prefeitura
e tem uma rotina bastante burocrática em meio a pilhas e mais pilhas de
papéis. Quando descobre que lhe restam poucos meses de vida, ele "chuta
o balde" e passa a fazer coisas que não fazia antes, ou literalmente,
passa a viver. E nesse ínterim, também resolve desengavetar o projeto de
um parquinho de diversões para crianças em um canto esquecido da
cidade, como forma de encontrar um propósito para esses seus últimos
dias e ajudar os moradores com algo útil.
O texto é bem fiel ao
original, e até mesmo a icônica cena final no balanço é repetida aqui. A
atuação de Bill Nighy é muito sensível e é o que de fato segura o filme
até o final, mas os personagens secundários infelizmente não funcionam e
são mal desenvolvidos. Um exemplo disso é Sutherland (Tom Burke), que
no início do filme está no seu primeiro dia de trabalho na repartição do
Sr. Williams e parece que vai ter um papel importante na história, mas
acaba sendo totalmente descartável. Outro ponto é que no filme de
Kurosawa eu consegui comprar perfeitamente a melancolia do protagonista e
os motivos dele ser tão triste e quieto, mas desta vez eu não consegui
me conectar de forma alguma com este mesmo personagem. No fim, a
mensagem tão importante de que devemos viver a vida antes que tudo isso
acabe é esvaziada, e se torna apenas um filme morno e de pouquíssimos
momentos bons.
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