domingo, 19 de março de 2023

Crítica: Living (2022)


Viver (1952), dirigido por Akira Kurosawa, é um dos mais belos filmes já feitos em todos os tempos, e a reflexão que ele traz sobre a vida e principalmente sobre a finitude dela é algo que fica para sempre na lembrança de quem o assiste. Mais de setenta anos depois, o filme ganhou uma refilmagem tão sensível quanto nas mãos de Oliver Hermanus, mas que infelizmente carece de alma e não consegue alcançar o mesmo nível do clássico, tanto na parte técnica quanto na parte sentimental.


Living conta praticamente a mesma história do longa de 1952, mas desta vez ambientada na cidade de Londres. Na trama, acompanhamos o Sr. Williams (Bill Nighy), um homem que trabalha há décadas no setor de obras da prefeitura e tem uma rotina bastante burocrática em meio a pilhas e mais pilhas de papéis. Quando descobre que lhe restam poucos meses de vida, ele "chuta o balde" e passa a fazer coisas que não fazia antes, ou literalmente, passa a viver. E nesse ínterim, também resolve desengavetar o projeto de um parquinho de diversões para crianças em um canto esquecido da cidade, como forma de encontrar um propósito para esses seus últimos dias e ajudar os moradores com algo útil.

O texto é bem fiel ao original, e até mesmo a icônica cena final no balanço é repetida aqui. A atuação de Bill Nighy é muito sensível e é o que de fato segura o filme até o final, mas os personagens secundários infelizmente não funcionam e são mal desenvolvidos. Um exemplo disso é Sutherland (Tom Burke), que no início do filme está no seu primeiro dia de trabalho na repartição do Sr. Williams e parece que vai ter um papel importante na história, mas acaba sendo totalmente descartável. Outro ponto é que no filme de Kurosawa eu consegui comprar perfeitamente a melancolia do protagonista e os motivos dele ser tão triste e quieto, mas desta vez eu não consegui me conectar de forma alguma com este mesmo personagem. No fim, a mensagem tão importante de que devemos viver a vida antes que tudo isso acabe é esvaziada, e se torna apenas um filme morno e de pouquíssimos momentos bons.

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