Mais um ano está se aproximando do fim, e como já é de praxe chegou a hora de fazer aquele balanço anual do que aconteceu de melhor nas telas do cinema neste período. Então, confira abaixo a lista com os 25 melhores filmes lançados no Brasil em 2018:
25º Arábia, de João Dumans e Affonso Uchôa (Brasil)
Vencedor do Festival de Brasília, Arábia é um filme quase documental sobre a vida de um homem trabalhador que, dia após dia, luta pela sobrevivência nesse Brasil gigantesco e cheio de desigualdade. Incentivado a escrever uma peça teatral sobre sua vida, Cristiano (Aristides de Souza), trabalhador de uma fábrica, começa a escrever suas memórias e pouco a pouco passa a refletir sobre tudo que passou para chegar até onde está. Cristiano teve que peregrinar por todos os cantos do país em empregos muitas vezes desumanos e em locais insalubres, mas jamais deixou de seguir em frente, mesmo quando tudo parecia perdido. Com excelentes reflexões sobre a vida e seus percalços, Arábia é mais um belo exemplar do cinema independente brasileiro.
24º A Casa que Jack Construiu, de Lars von Trier (Dinamarca)
Se existe um diretor que não se curva às críticas para agradar um público maior, esse é Lars von Trier. Seu cinema nunca foi e nem nunca será fácil, e o que eu mais admiro nos seus trabalhos é a capacidade que ele tem de mostrar de forma sarcástica o pior lado do ser-humano. Ambientado nos anos 1970, A Casa que Jack Construiu mostra 12 anos na vida de um serial killer ardiloso, interpretado por Matt Dilon. O enredo utiliza a filosofia para entrar fundo na mente do psicopata, quase como se fosse uma sessão de psicoterapia, onde ele conta seus desejos e planos para um interlocutor, Virgílio (Bruno Ganz). Com cenas arrebatadoras, esse filme me proporcionou uma das experiências visuais mais incríveis e intensas que já tive dentro de uma sala de cinema.
23º Confronto no Pavilhão 99, de S. Craig Zahler (Estados Unidos)
22º Eu, Tonya, de Craig Gillespie (Estados Unidos)
21º Bohemian Rhapsody, de Bryan Singer (Estados Unidos)
De todos os filmes programados para serem lançados em 2018, Bohemian Rhapsody certamente era o que eu mais estava esperando. Como um grande fã de Queen, minha expectativa estava lá no alto, e foi gratificante ver o filme cumprindo bem seu papel nas telas. Compreendendo boa parte da carreira, da entrada de Freddie Mercury até o icônico show no Live Aid, o enredo emociona ao mostrar o lado humano dos membros da banda e principalmente a criação de algumas das canções mais famosas que marcaram e continuam marcando gerações. Destaque pra grande atuação de Rami Malek.
20º Severina, de Felipe Hirsch (Uruguai)
19º Benzinho, de Gustavo Pizzi (Brasil)
18º Ella e John, de Paolo Virzi (Estados Unidos)
Quem nunca sonhou em comprar um trailer e sair pela estrada sem rumo, apenas curtindo o que a vida tem de bom pra oferecer? Pois essa sempre foi uma das atividades preferidas de Ella e John, desde que eram jovens namorados. Agora, aposentados, os dois resolveram relembrar os bons tempos numa longa viagem pelos Estados Unidos. Apesar de estarem se divertindo como se fosse a primeira vez, os dois não tem mais a mesma saúde de antes e ambos sabem que esta provavelmente será sua última viagem juntos. A trama tem cenas belíssimas, e flerta com o humor de forma muito racional. Talvez o maior êxito de Paolo Virzi foi mostrar esta parceria entre duas pessoas que, mesmo com o passar de tantos anos e dos inúmeros contratempos, continuam dispostos a dar todo amor e dedicação um ao outro, algo raro.
É muito interessante parar para perceber como, de uns anos para cá, vem surgindo muitas animações críticas com temas realmente adultos. Finalista no Óscar de melhor animação, A Ganha-Pão se passa no Afeganistão e mostra, sob os olhos de uma criança, todos os horrores que o regime talibã, baseado em ideais religiosos ultrapassados, trouxe aos habitantes do país, sobretudo às mulheres. O clima do filme é pesadíssimo, mas não deixa de ter seus momentos singelos e bonitos. Uma grande obra sobre família, liberdade e sobretudo humanidade.
16º A Forma da Água, de Guillermo Del Toro (Estados Unidos)
Vencedor do Óscar deste ano de melhor filme e melhor direção, o novo filme de Del Toro dividiu opiniões ao trazer às telas o romance improvável entre uma mulher e uma criatura fantástica, capturada pelos agentes federais no meio da floresta amazônica. O enredo se passa numa época em que Estados Unidos e União Soviética travavam uma guerra científica, sem contar as inúmeras mudanças sociais ocorridas naquele período, e isso tudo foi encaixado com perfeição na trama. Visualmente, A Forma da Água é deslumbrante, e tem cenas memoráveis.
15º O Que as Pessoas Vão Dizer, de Iram Haq (Noruega)
14º Promessa ao Amanhecer, de Éric Barbier (França)
13º Três Anúncios Para um Crime, de Martin McDonagh (Estados Unidos)
12º Sem Amor, de Andrey Zvyagintsev (Rússia)
11º A Vida em Si, de Dan Fogelman (Estados Unidos)
A vida como ela é, simples, com seus desenlaces, suas pequenas e grandes tragédias e principalmente suas surpresas. O filme de Dan Fogelman se divide em capítulos e mostra com muita sensibilidade a forma como histórias de vida se cruzam de forma natural. De um casal em Nova Iorque a uma família na Espanha, todos de alguma forma estão interligados, e o roteiro inteligentíssimo e muito bem montado consegue mostrar isso de forma primorosa.
10º Buscando..., de Aneesh Chaganty (Estados Unidos)
O Insulto parte de uma situação corriqueira e simples (um cano quebrado na rua) para abordar a intolerância e, sobretudo, mostrar como o ser-humano vive à flor da pele, onde uma pequena "faísca" é capaz de gerar um conflito de proporções absurdas. Um muçulmano e um cristão estão no centro dessa briga, que vai parar nos tribunais até chegar à mídia, e aí explodir de vez numa "guerra" entre os dois lados da cidade. O mais importante do longa é a mensagem que ele passa, extremamente relevante nos tempos de polarização em que vivemos.
O filme de Jang Hoon mistura drama e humor para abordar um dos períodos mais difíceis da história da Coréia do Sul, quando o país passou por uma violenta ditadura militar. E tudo isso sob a visão de um cidadão comum, um motorista de táxi, que sem querer acaba fazendo sua parte para mudar a história ao transportar um fotógrafo estrangeiro. Muito mais do que entretenimento, o filme serve de lição para que coisas como essa nunca mais aconteçam em lugar nenhum do mundo.
7º Foxtrot, de Samuel Maoz (Israel)
Na segunda metade do século 20 todos os países do sul da América do Sul passaram por algum período ditatorial, e Uma Noite de 12 anos mostra um pouco do que foi o regime militar no Uruguai, que durou exatos 12 anos. A trama se passa dentro de uma das prisões do regime e acompanha três prisioneiros e suas mil maneiras de seguir com esperança em meio a violentas torturas físicas e psicológicas. Entre eles estava Pepe Mujica, que se tornou presidente do Uruguai em 2010. Tive o prazer de ver esse filme no cinema, o que me proporcionou uma das experiências sensoriais mais impressionantes até então, quando a sala inteira aplaudiu de pé logo após o final do filme.
Desde que comecei a postar listas dos melhores nos finais de ano, essa é a primeira vez que uma animação fica entre os primeiros. E não poderia ser diferente, já que Viva - A Vida é Uma Festa é, provavelmente, um dos melhores filmes já lançados do gênero. Abordando com muita sensibilidade temas como morte e família, ele é um filme que toca fundo na alma de quem o assiste, seja da idade que for. Além da belíssima mensagem que a estória transmite, é muito legal também para conhecer um pouco mais sobre a cultura mexicana e suas tradições.
Representante de Taiwan no próximo Óscar de melhor filme estrangeiro, The Great Buddha + descreve com muita sensibilidade e doses de humor o dia-dia de um vilarejo do país, se aprofundando em aspectos de uma cultura pouca conhecida para os lados de cá. O enredo acompanha dois trabalhadores de uma fábrica de estátuas de bronze, onde está sendo construído um grande Buda. Grandes amigos, os dois se reúnem todas as noites para botar conversa fora, até que encontram um novo "hobbie". O que mais me conquistou nesse filme foi sua forma poética de contar a estória, com diálogos espirituosos e cheios de reflexões sobre a vida.
Provocativo, intenso e com um senso de humor diferenciado, o filme de Ruben Ostlund impressiona desde as primeiras cenas com sequências originais. A trama acompanha o curador de um conceituado museu de arte moderna de Estocolmo, que está prestes a receber uma nova exposição, chamada The Square, que segundo a autora tem a intenção de sensibilizar o público sobre a importância da empatia. Ao mesmo tempo em que apoia a exposição, o mesmo age de forma mesquinha com todos ao redor, e Ostlund usa isso para criticar a hipocrisia no ser-humano. Não é um filme fácil, pelo contrário, mas quando você consegue "pescar" sua essência e entrar fundo na estória, a experiência se torna única.
4º The Great Buddha +, de Huang Hsin-yao (Taiwan)
3º The Square - A Arte da Discórdia, de Ruben Ostlund (Suécia)
O cinema contemporâneo francês possui uma forte característica de crítica social, e o filme do estreante Xavier Legrand não foge disto. O enredo acompanha um casal que acabou de se divorciar, focando na disputa dos dois pela guarda do filho de 11 anos. É um filme com cenas bem pesadas, que mostra sobretudo o drama de viver em um relacionamento abusivo e violento. Num tempo onde todos os dias vemos notícias de mulheres sendo agredidas e mortas por ex-maridos, esse filme se torna absolutamente atual.
"Essa parada é baseada em fatos pesadíssimos", já avisava o primeiro letreiro do filme, mas ainda assim confesso que eu não estava preparado para ver o que eu vi. Voltando a mexer na ferida da segregação racial nos Estados Unidos, Spike Lee trouxe às telas um dos filmes mais pesados e críticos dos últimos anos. Passando-se nos anos 1970, o enredo acompanha um policial negro (John David Washington) que começa a se passar por um homem branco para tentar se infiltrar na Ku Klux Klan. No cenário atual, onde discursos de ódio ganharam voz sob a desculpa da "liberdade de expressão", este filme se tornou extremamente necessário e é impossível termina-lo indiferente. Por isso, é para mim o grande longa do ano.
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Lista incrível. Como você salientou ali em cima, é necessário "pescar" a essência de algumas obras.
ResponderExcluirSe eu fosse elaborar uma lista eu colocaria uma filme chamado "Supa Modo", do Quenia. Se puder, va atrás dessa obra. Grande abraço!