segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Os 20 melhores filmes lançados no Brasil em 2019

Mais um ano se aproxima do fim e chegou novamente aquele momento tão esperado de fazer a lista com os melhores filmes do ano. Foi um ano de grandes diretores nas telas, como Scorsese, Tarantino, Joon-ho Bong e Noah Baumbach, mas também de grandes novidades, como as diretoras Eva Husson, Mimi Leder e Nadine Labaki. Com enredos que vão desde a luta de classes até cinebiografias, a lista de 2019 está bastante diversificada. Confira ela completa abaixo:


20º O Ano de 1985, de Yen Tan (Estados Unidos)

O filme acompanha um jovem que está morando longe dos pais há três anos e está retornando à casa da família para a ceia de Natal. Bom, até aí tudo bem, mas as coisas não são tão simples assim. Ele acabou de passar por uma tragédia pessoal além de ter sido diagnosticado com AIDS, e precisa contar isso para uma família extremamente religiosa e conservadora e que não faz a mínima ideia da sua orientação sexual. Ah, lembrando ainda todo o contexto dos anos 1980, onde o preconceito era muito maior do que é hoje. O que eu mais gostei nesse filme foi o fato dele fugir do convencional sobre o assunto e trazer uma abordagem extremamente delicada, focando na dor interna e silenciosa que o personagem sente por ter que esconder das pessoas que ele ama aquele quem ele verdadeiramente é.


19º O Traidor, de Marco Bellocchio (Itália)

O novo filme de Bellocchio se passa nos anos 1980 e acompanha o período em que o mafioso Tommaso Buscetta, refugiado no Brasil e posteriormente preso pela polícia federal brasileira, decidiu delatar os nomes de centenas de envolvidos com a máfia siciliana, o que culminou no maior julgamento da história da Itália. O filme tem boas atuações e possui uma atmosfera quase documental, e o enredo não cansa em nenhum momento apesar da sua longa duração. Representante da Itália no Óscar de 2020, O Traidor conta ainda com duas belezas brasileiras: as lindas paisagens da cidade do Rio de Janeiro e a atriz Maria Fernanda Cândido.

18º Green Book, de Peter Farrely (Estados Unidos)


O nome do filme se refere a um livreto conhecido no período da segregação racial nos Estados Unidos, que indicava os lugares onde os negros eram permitidos, como hotéis, bares e restaurantes. Vencedor do Óscar de melhor filme este ano, Green Book usa a viagem de um músico negro pelo sul dos Estados Unidos nos anos 1960 para explorar este período difícil da história, mas tudo com leveza e até mesmo bom humor. Mesmo que não discuta o racismo fortemente como outros filmes, o assunto está presente o tempo inteiro, e não poderia ser diferente, dado o contexto da época. Vale muita a pena conferir a atuação de Mahershala Ali, que também venceu o Óscar de melhor ator coadjuvante.


17º Rocketman, de Dexter Fletcher (Estados Unidos)

O astro Elton John é interpretado brilhantemente por Taron Egerton nesse filme que conta sobre sua carreira e sua ascensão meteórica no mundo da música. O filme não tem medo de flertar com o gênero musical clássico, daquele jeitão que todos costumam associar quando se pensa em musical, com coreografias e cenas bem animadas, mas também tem um ótimo apelo dramático, principalmente na questão do uso de drogas e da solidão de alguém que pensa não se encaixar no mundo. As metáforas visuais tornam o filme uma aventura e tanto, e encantam tanto os fãs do artista quanto quem está tendo contato com sua história pela primeira vez.


16º A Odisseia dos Tontos, de Sebastián Borensztein (Argentina) 


Como um grande fã do cinema argentino que sou, não poderia deixar de fora da lista mais um grande trabalho deste diretor, que já havia me conquistado com Um Conto Chinês. Novamente trabalhando com Ricardo Darín, ele traz aqui uma história de superação de "tontos", denominação para pessoas que trabalham honestamente e só se ferram. Após se reunirem para formar uma cooperativa e investirem dinheiro em um negócio, um grupo de pessoas acaba sofrendo um golpe de um banqueiro e de seu advogado. A partir de então eles começam a armar um plano e vão até o limite para recuperar tudo o que perderam. O filme tem um ótimo bom humor e uma mão firme na direção. Na sessão que assisti, todos aplaudiram no final, meceridamente.

15º Suprema, de Mimi Leder (Estados Unidos)

O filme conta a história real de Ruth Bader Ginsburg, interpretada pela Felicity Jones, que fez história nos anos 1960 ao se tornar uma das primeiras mulheres a ingressar na Suprema Corte dos Estados Unidos, um ambiente majoritariamente masculino. O enredo faz um excelente retrato da sociedade machista daquela época, mostrando todos os obstáculos que ela enfrentou para chegar onde chegou, apenas pelo fato de ser mulher. Mais do que uma homenagem a essa grande jurista, Suprema é um filme necessário numa época em que, infelizmente, ainda é preciso discutir o feminismo e os direitos iguais.


14º Cyrano Mon Amour, de Alexis Michalik (França)

Cyrano de Bergerac é uma das peças mais importantes da história do teatro, e já foi encenada mais de vinte mil vezes ao longo de dois séculos. O filme de Alexis Michalik conta como surgiu esse personagem na cabeça de Edmond Rostand, ainda no final do século 19, e todas as dificuldades que ele enfrentou para realizar a ideia nos palcos. Fracassado na carreira de dramaturgo, Rostand começou a buscar inspiração em situações rotineiras e, como de praxe, em uma musa inspiradora, para escrever esse grande clássico. A ambientação da época e o bom humor fazem desse filme uma linda experiência, além de ser uma verdadeira declaração de amor ao teatro.

13º A Vida Invisível, de Karim Ainouz (Brasil)

Escolhido para representar o Brasil no Óscar de 2020, A Vida Invisível era um dos filmes nacionais mais esperados do ano e cumpriu muito bem com as expectativas. A trama conta a história de duas irmãs, Gilda e Eurídice, que cresceram juntas no seio de uma família tradicional portuguesa no Rio de Janeiro mas que, por consequências do destino, acabaram se separando na vida adulta. O filme traz críticas contundentes ao machismo da sociedade na década de 1960, com uma estonteante beleza nos detalhes. As atuações, a trilha sonora e a ambientação da época são impecáveis, e a participação especial de Fernanda Montenegro foi a cereja do bolo de mais um grande sucesso do cinema nacional.


12º Amor à Segunda Vista, de Hugo Gélin (França)

Enredos envolvendo histórias de amor e viagens no tempo já foram feitos aos montes por aí, mas aqui a receita ganhou uma originalidade que de cara me conquistou. A trama acompanha o casal Raphael e Olivia, que se conhecem na faculdade e se apaixonam perdidamente um pelo outro. Após 10 anos morando juntos e mais uma briga rotineira do casal, Raphael simplesmente acorda em uma realidade paralela, onde eles nunca se conheceram e ele vive uma vida completamente diferente da que tinha. Desesperado, ele encontra uma maneira de voltar no tempo para tentar consertar as coisas e ter a sua vida anterior de volta. É um filme de romance mas com um enredo bem complexo e surpreendente, com personagens muito bem trabalhados e um humor refinado.


11º Era Uma Vez em... Hollywood, de Quentin Tarantino (Estados Unidos)

O nono filme do Tarantino pode não ser o melhor trabalho da sua carreira, mas o cineasta é tão grandioso na sua maneira de nos contar uma história que mesmo assim o filme figura entre os melhores do ano. Como se fosse uma espécie de homenagem do diretor a tudo que serviu de inspiração nos seus filmes anteriores, Era Uma Vez em... Hollywood se passa na Los Angeles dos anos 1960 e acompanha um ator em decadência, interpretado por Leonardo DiCaprio, que busca o seu espaço fazendo participações em séries de faroeste, contando sempre com a ajuda do dublê e amigo fiel, interpretado pelo Brad Pitt. O filme tem ainda como pano de fundo a seita liderada por Charles Manson, que naquela época colocou terror em Los Angeles com uma série de assassinatos, o mais conhecido deles o da atriz Sharon Tate, que no filme ganha vida nas mãos de Margot Robbie. Ao que tudo indica, o filme deve ter presença garantida no próximo Óscar e em categorias importantes, como a de melhor filme, melhor roteiro e principalmente a de melhor ator.

10º Parasita, de Joon-ho Bong (Coréia do Sul)

Gosto muito dos filmes do diretor Joon-ho Bong (Expresso do Amanhã é um dos meus filmes preferidos da vida), que tem como característica principal tocar na ferida da luta de classes, tema que ele sabe abordar como ninguém no cinema oriental. E com Parasita não poderia ser diferente. Fui olhar com grande expectativa, até por conta da vitória em Cannes, e não me decepcionei. Mostrando um lado da Coreia do Sul que não é mostrada na televisão (o da pobreza, da sujeira, e da falta de perspectiva num futuro melhor), o filme acompanha uma família que vive num apartamento apertado no subúrbio e decidi aplicar um "golpe" em uma família rica para experimentar, pelo menos por alguns dias, o que é ter uma vida de luxo. A crítica social está presente durante todo o filme, sempre mostrando um contraste entre os dois mundos distintos, o da riqueza e o da pobreza, seja de forma explícita ou simplesmente pelas ações despretensiosas dos personagens.

9º Dois Papas, de Fernando Meirelles (Reino Unido)

O novo filme do genial Fernando Meirelles começa exatamente com a morte do Papa João Paulo II e o conclave que elegeu o novo Papa, Joseph Ratzinger. Assim que o novo Papa assume o posto, o argentino Jorge Bergoglio, um dos cardeais mais importantes da igreja, decide pedir sua aposentadoria, já que tem uma visão completamente oposta às ideias do novo "comandante" da igreja. Os encontros dos dois é o que move este filme, e é muito interessante analisar que desde o início existe um antagonismo nos dois personagens, de um lado Ratzinger defendendo uma igreja mais fiel aos ideais que vem de séculos, contra uma ideia mais liberal de Bergoglio, que quer mudanças. O enredo vai mostrando esses encontros até o momento que Ratzinger renuncia ao cargo, e Bergoglio se torna o Papa Francisco. É um filme interessantíssimo até para que não é religioso, como é o meu caso, justamente pela direção extremamente competente, pelos ótimos diálogos e pelas atuações irretocáveis de Anthony Hopkins e Jonathan Pryce.


8º Bacurau, de Kléber Mendonça Filho (Brasil)

Sucesso de público e crítica, não somente no Brasil mas principalmente no exterior, Bacurau já é com certeza o maior filme da carreira do pernambucano Kléber Mendonça Filho. O longa se passa numa cidadezinha do sertão nordestino, chamada Bacurau, e acompanha uma série de eventos que se sucedem a uma estranha aproximação de um grupo de estrangeiros na região. Não é um filme de fácil absorção, muito pelo contrário, mas é uma obra instigante, daquelas que vão ficando melhor a cada vez que você pára para analisar tudo que acontece nela. É uma espécie de faroeste sertanejo, ainda que fuja de qualquer tipo de rotulação, e traz no enredo muita crítica social, mesmo que grande parte seja implícita. Em tempos de obscuridade, o cinema nacional teve com Bacurau um dos seus respiros mais profundos.


7º História de um Casamento, de Noah Baumbach (Estados Unidos)

Com um verdadeiro show de interpretação de Scarlett Johansson e Adam Driver, o novo filme de Noah Baumbach entrou fácil para a lista dos melhores do ano. O filme conta a história de um casal que está se divorciando e precisa lidar com a disputa na justiça pela guarda do filho, um tema já abordado tantas vezes no cinema, mas poucas vezes de forma tão humana. O diretor evita o uso de cortes e de flashbacks, e a separação do casal é mostrada principalmente através dos seus diálogos e das suas ações, focando principalmente nos detalhes da personalidade de cada personagem, que nos faz entender como tudo chegou aonde está. Noah utiliza um divórcio para trazer uma abordagem diferente do amor e do respeito entre dois seres humanos, com seus defeitos e qualidades, que apenas viram a parceria existente entre eles se esvair pelos dedos com o passar do tempo, sem apontar culpados.


6º Graças a Deus, de François Ozon (França)

Baseado numa história real, o novo filme de François Ozon toca no polêmico assunto da pedofilia dentro da igreja católica, mostrando um padre que volta à cidade onde deu catequese após três décadas. Ao descobrir seu retorno, uma das vítimas daquela época decide reunir outras pessoas que também foram abusadas pelo mesmo padre para tentar uma punição na justiça. O diretor aborda as sequelas psicológicas que as crianças abusadas levam para o resto de suas vidas, e critica o modo como a instituição sempre tentou passar pano para diminuir as repercussões dos casos. Há também um bom debate sobre a questão psicológica dos abusadores, o que torna o filme bem complexo e necessário.


5º O Irlandês, de Martin Scorsese (Estados Unidos)

Se tem um diretor que sabe abordar a violência nos cinemas, esse é Martin Scorsese. Anos depois dos clássicos Os Bons Companheiros e Cassino, ele volta ao gênero máfia/gângster com O Irlandês, um dos filmes mais esperados do ano. Só de ver Joe Pesci, Al Pacino, Robert DeNiro e Harvey Keitel juntos novamente já valeria a pena cada segundo, mas o filme vai muito além de um grande elenco e é uma verdadeira aula de cinematografia. Com longas sequências, trilha sonora envolvente, diálogos muito bem trabalhados e um espetáculo de atuações, o filme é com absoluta certeza um dos grandes favoritos ao próximo Óscar.


4º Nunca Deixe de Lembrar, de Florian Henckel van Donnersmarck (Alemanha)

Finalista no último Óscar de melhor filme estrangeiro, Nunca Deixe de Lembrar é a odisseia de um artista desde a sua infância na Alemanha Hitlerista até a sua consagração na Alemanha já dividida pelo Muro de Berlim. O roteiro acompanha a vida desse artista durante 4 décadas, e junto viaja pela história do país e pelas diversas mudanças sociais que ocorreram no período. O que mais encanta ao longo de todo filme é sua fotografia, unida a uma trilha sonora encantadora e a ótimas atuações. Um filme necessário para nunca deixar de se lembrar o quão destrutiva uma guerra é capaz de ser na vida dos seres humanos e de toda uma geração.

3º Coringa, de Todd Philips (Estados Unidos)

O Coringa é um filme corajoso, como há muito não se via no cinema de multidões, e é exatamente isso que o cinema americano precisava: ousadia. O personagem já havia aparecido em diversos filmes ao longo dos anos, mas somente agora, pela primeira vez, ganhou um filme só seu, e com uma grandiosidade que superou todas as expectativas. O diretor Todd Philips nos apresentou um trabalho de construção de personagem impressionante, desses que revigoram o cinema e nos fazem lembrar como é bom amar a sétima arte. E tudo isso não seria possível sem um grande ator por trás, Joaquim Phoenix, naquela que talvez seja a grande atuação da sua carreira até então. Coringa é o tipo de filme em que você sai da sala do cinema atordoado, tentando digerir o que viu.


2º Filhas do Sol, de Eva Husson (França)

Um dos filmes mais pesados deste ano veio da França, e além de ser dirigido por uma mulher também foi protagonizado somente por mulheres. Pela ótica de uma correspondente de guerra, o filme conta a história real de um grupo de mulheres que sobreviveram a um massacre do Estado Islâmico na região do Curdistão e que juntas pegaram em armas para formar um exército de resistência. É o tipo de filme que deixa cicatrizes profundas em quem assiste, pois é impossível ficar indiferente a tudo que é mostrado. Um filme que, apesar de sufocante, brinda nossos olhos com lindas cenas e nos deixa com a sensação de ter visto algo único nas telas. "Mulheres, vida, liberdade!".


1º Cafarnaum, de Nadine Labaki (Líbano)

Só de lembrar da sensação que eu tive ao ver esse filme no cinema, eu chego a me arrepiar, de verdade. Cafarnaum é um longa poderosíssimo e super intenso, que fala não somente sobre as mazelas sociais mas também sobre a falta de esperança de crianças e adultos em meio a uma realidade caótica e sub humana. O enredo gira em torno de um garoto libanês de 12 anos que vive numa família abusiva e sonha com o mínimo: poder um dia estudar em uma escola. Porém, obrigado a trabalhar desde cedo, o garoto precisa deixar esse sonho de lado. Sem registro de seu nome, é quase como se ele não existisse perante o mundo, e a situação piora quando ele se vê sozinho pelas ruas. Em algumas sessões há relatos de aplausos calorosos no final da exibição, na minha houve choro, muito choro. Um choro de impotência, por estarmos vendo uma realidade que infelizmente está tão distante de mudar. A maior obra-prima do cinema em 2019.

Nenhum comentário:

Postar um comentário