domingo, 22 de dezembro de 2019

Crítica: Dois Papas (2019)


O novo trabalho do brasileiro Fernando Meirelles (de Cidade de Deus e Ensaio Sobre a Cegueira) mostra os encontros que ocorreram entre Joseph Ratzinger, o Papa Bento XXI, e o cardeal argentino Jorge Bergoglio, que posteriormente veio a se tornar o Papa Francisco, e o quanto isso foi decisivo para os rumos que a igreja católica tomou nesses últimos anos.



O filme começa com a morte do Papa João Paulo II, em 2005, e o conclave que escolheu Ratzinger (Anthony Hopkins) como o novo papa. O segundo mais votado foi Jorge Bergoglio (Jonathan Pryce), que por não concordar com as ideias conservadoras de Ratzinger resolve pedir sua aposentadoria do cargo de cardeal, aposentadoria essa que só pode ser aceita pelo próprio Papa. E para isso, ele precisa tentar convencê-lo a aceitar.

Interessante acompanhar como desde o início o filme traz um antagonismo entre as ideias que cada um tem para o futuro da igreja. Enquanto Ratzinger defende essa linha mais fiel aos desígnios que vem de séculos, Bergoglio defende uma igreja mais liberal, progressista e com mudanças no comportamento, e todo o desenrolar do enredo é baseado nesse debate. Além dos diálogos fantásticos travados entre os dois, o filme também mostra como foi o passado de Bergoglio na Argentina, principalmente na época em que era pároco durante o violento período da ditadura militar no país. 

Não dá para deixar de analisar a forma como ambos carregam um certo peso na consciência por atos do passado e vão se abrindo sobre isso pouco a pouco. Bergoglio se sente culpado por não ter feito mais para defender inocentes na ditadura, enquanto Ratzinger se culpa por ter deixado passar alguns casos de abuso de padres contra crianças.



Dois Papas é um filme poderoso por dois motivos: as atuações impecáveis de Hopkins e Pryce e a direção competente de Meirelles, que não deixa o filme perder o ritmo em momento algum. Aliás, duas das principais características de Meirelles estão bastante presentes, como os close nos personagens e a câmera dinâmica, que nos coloca como espectadores onipresentes em tudo que está acontecendo. Trata-se de uma grande surpresa de final de ano da Netflix, e é importantíssimo terminar dizendo que não, não é preciso ser religioso para apreciá-lo.


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