Dirigido por Phyllis Nagy, que ficou mais conhecida por seu roteiro de Carol (2015), Disque Jane (Call Jane) entrou há poucas semanas no catálogo brasileiro do Prime Vídeo e merece sua atenção por trazer à tona um tema polêmico e delicado: aborto.
O filme se passa em 1968, onde vemos Joy
(Elizabeth Banks) muito contente com a gravidez de mais um filho. No
entanto, logo após um desmaio, ela descobre que tem um problema cardíaco
que é agravado pela gravidez, e isso põe em risco sua própria vida caso
continue com a gestação. Após ter seu pedido de aborto negado pela
comissão médica, que prefere priorizar a vida do feto, Joy busca ajuda
em uma clínica clandestina de aborto, liderada por Virgínia (Sigourney
Weaver). Apesar de tudo ser muito bem escondido, a clínica possui um
grande número de "pacientes", que por diversos motivos optam pelo
aborto. A partir de então, Joy não somente consegue paralisar sua
gravidez, como também passa a vivenciar o cotidiano dessas mulheres e a
ajudá-las durante todo o doloroso processo.
O ponto central da
trama é acompanhar a mudança de comportamento e de perspectiva da
protagonista. De uma simples dona de casa suburbana e alheia às questões
sociais do país, ela se transforma numa peça crucial para ajudar
mulheres que precisam fazer o procedimento médico, tomando cada vez mais
ciência da importância que vai tomando na vida delas. Em outras
palavras, é a típica história da redenção de um personagem, que neste
caso muda de uma mulher conservadora e quase invisível, para uma mulher
que sai da zona de conforto e encontra seu lugar no mundo.
Como
já era de se esperar, o filme causou bastante polêmica, até mesmo com
críticas pesadas de que estaria fazendo "apologia" ao aborto. E há, de
fato, uma posição clara em seu argumento: de que mulheres precisam ser
donas de seus próprios corpos, e que não há nada de errado nisso.
Infelizmente a direção parece se perder um pouco do meio para o final,
quando faz algumas escolhas narrativas duvidosas e inclui elementos de
humor.
Algumas facilitações também deixam o filme um pouco superficial, como por exemplo, o fato da protagonista aprender a fazer abortos muito rapidamente sem nunca ter sequer estudado medicina. Os personagens secundários também são mal construídos, como o próprio marido de Joy, ou sua filha, que não tem nenhum tipo de desenvolvimento. Por fim, por mais que seja exageradamente expositivo e tenha seus defeitos, Disque Jane serve, sim, como mais uma ferramenta de debate a respeito desse tema importante e necessário que é o aborto.
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