terça-feira, 18 de abril de 2023

Crítica: Tori e Lokita (2022)


De uns anos para cá tem crescido muito o número de filmes que retratam a crise imigratória na Europa, e é sempre doloroso acompanhar o que essas pessoas passam para tentar ter um pouco de dignidade longe da sua terra natal. Tori e Lokita é o mais recente trabalho dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, que já são conhecidos por abordarem temas sociais importantes em seus filmes, e aqui não poderia ser diferente.


Lokita (Joely Mbundu) e Tori (Pablo Schils) são dois jovens imigrantes vindos do Benin, que tentam sobreviver nas ruas da Bélgica atual. Ela está tentando conseguir os documentos na imigração para permanecer no país, mas na entrevista acaba se atrapalhando e não consegue responder direito as perguntas que os agentes fazem. Por conta disso ela tem seus documentos negados, e no desespero de conseguir uma documentação falsa e para permanecer no país, Lokita acaba se envolvendo em um negócio de plantação e venda de drogas, onde vive escondida pelos criminosos até que tudo se resolva.

Eu gostei muito da dinâmica dos atores que fazem os dois protagonistas. Para a imigração eles dizem ser irmãos, mas existe uma aura de mistério sobre a veracidade, já que as informações que eles dão sobre isso parecem bem inconclusivas. A falta de resposta definitiva sobre seu verdadeiro grau de parentesco, no entanto, acaba sendo apenas um detalhe, pois é impossível não comprar o afeto que existe entre eles. São dois jovens (no caso dele, uma criança) que estão tentando sobreviver longe de casa, longe de todos que conhecem, enfrentando todos os perigos e preconceitos que poderiam enfrentar pela frente, e enxergam um no outro como um irmão, sendo de sangue ou não. Infelizmente a realidade de Tori e Lokita é a realidade nua e crua de milhares de pessoas que vivem na mesma situação, não só na Bélgica, mas em todo o mundo.


O filme também aborda a exploração que os locais fazem dessas pessoas, em troca de obter mão de obra barata ou até mesmo como ajuda para cometer delitos. Como Betim (Alban Ukaj), um imigrante do leste europeu que usa os dois para distribuir sua droga pela cidade. E aqui também é preciso falar sobre um ponto que chama a atenção: todos os personagens "ruins" da trama também vieram de outros países, e não são moradores locais, o que acaba sendo um ponto controverso na narrativa e deixa subentendida a verdadeira intenção da direção quanto ao tema. Apesar dos acertos, fica o sentimento de que o roteiro podia ter ido muito além, e se aprofundado mais nas questões morais que apresenta. O filme acaba sendo apenas uma espiral de desgraças, onde tudo de ruim acontece com os protagonistas, e só isso.


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