Criado em 1984, Tetris virou um fenômeno numa época em que os jogos eletrônicos estavam apenas engatinhando, e até hoje ainda é jogado e exaltado mundo afora. Porém, a história por trás da sua criação e principalmente do seu licenciamento é muito mais complicada e complexa do que juntar tetraminós em linha reta para somar pontos, e o filme de Jon S. Baird conta toda esta confusão tendo o caótico cenário da Guerra Fria como pano de fundo.
O jogo
foi criado por Alexey Pajitnov (Nikita Efremov) em um centro de
computação do governo soviético, mas como nessa época os soviéticos eram
bastante rígidos com o que entrava e principalmente com o que saía do
país, ele só chegou no outro lado do mundo de maneira clandestina, pelas
mãos de Robert Stein (Toby Jones), que na sequência o revendeu para
Robert Maxwell (Roger Allam), um magnata de uma grande empresa midiática
que passou a deter os direitos do jogo para videogames. Do outro lado
temos Henk Rogers (Taron Egerton), um programador de jogos que está
desiludido após o fracasso de seu mais novo investimento, e que descobre
Tetris por acaso em uma feira de games. Fascinado pelo jogo, ele também
passa a lutar para ter a licença sobre uma parte dele, e isto é só o
começo de uma trama de espionagem corporativa cheia de reviravoltas que
envolve desde grandes empresários do ramo de jogos eletrônicos até
oficiais da KGB.
O roteiro é bastante frenético, e algumas
animações em 8 bits, inclusive em uma cena específica de perseguição
automotiva, encaixaram bem na história, deixando o clima mais leve e até
mesmo divertido. A trilha sonora cheia de sintetizadores também remete
aos anos 1980, e eu gostei bastante da ambientação da época. Taron
Egerton também se destaca na pele do protagonista, em mais uma atuação
elogiável do ator, que já tinha chamado a atenção em Rocketman.
O grande erro do filme, no entanto, é ser bastante maniqueísta ao tratar os americanos como os "mocinhos" e os soviéticos como grandes "vilões". Aliás, toda a parte soviética é extremamente caricata, e até mesmo meio preconceituosa, usando todos os clichês possíveis em uma clara e nítida propaganda anticomunista. Posso citar como exemplo uma cena totalmente desnecessária para a narrativa, onde o protagonista oferece alimento para uma moradora local ao ver que os mercados do país estão sem produtos para vender em suas prateleiras. Há ainda outra cena completamente cafona, onde Rogers descobre que Pajitnov não está ganhando nada com sua criação e o russo exclama "isso é comunismo!". Tirando essa caracterização grotesca e pretensiosa, Tetris é um filme que pode agradar bastante aqueles que gostam de games, principalmente por conta de sua atmosfera nostálgica.
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