terça-feira, 23 de dezembro de 2025

Crítica: O Bom Bandido (2025)


Quase dez anos após seu último longa-metragem, o cineasta Derek Cianfrance (de Namorados para Sempre e O Lugar Onde Tudo Termina) retorna às telas com O Bom Bandido (Roofman), filme inspirado em uma história real que transita com surpreendente leveza entre o drama moral, a comédia e até mesmo o romance. O resultado é uma obra que conquista menos pela engenhosidade de sua trama e mais pelo carisma irresistível de seu protagonista.


O filme conta a história de Jeffrey Manchester (interpretado por Channing Tatum), um veterano do exército americano que no final dos anos 1990 ficou conhecido nos noticiários como "Roofman" (o homem do telhado, em uma tradução literal). Jeffrey cometeu dezenas de assaltos em redes de fast food como Mc Donald's e Burguer King, sempre entrando pelo telhado dos estabelecimentos. Apesar de apontar uma arma para os funcionários e clientes dos locais, ele tinha uma característica que ficou marcada: era sempre gentil e educado com todas as vítimas, o que conferiu uma fama curiosamente ambígua a ele.

Após ser capturado pela polícia e condenado a 45 anos de prisão, ele usa toda sua inteligência e astúcia para fugir do local, e decide se esconder em uma enorme loja de brinquedos. Durante o dia, permanece oculto em meio ao caos do comércio, e à noite, percorre livremente seus corredores vazios, como se estivesse suspenso entre dois mundos. É nesse limbo que ele conhece Leigh (Kirsten Dunst), uma mãe solo de duas filhas que é funcionária do local. Sob a identidade falsa de John, Jeffrey se aproxima dela, constrói um vínculo afetivo com as crianças, passa a frequentar a igreja que Leigh congrega e, por um breve período, experimenta a ilusão de uma vida comum, aquela que sempre desejou, mas nunca soube como alcançar.

A grande força do filme está na construção de seu protagonista. Ainda que não haja qualquer tentativa de justificar a entrada para o mundo do crime, Cianfrance opta por observar Jeffrey com empatia, explorando suas contradições internas. Sem recursos financeiros e emocionalmente perdido, ele acredita estar fazendo o melhor possível para oferecer uma vida digna à filha e tentar salvar um casamento já condenado. Há, nesse impulso, algo de genuinamente humano, ainda que profundamente equivocado, e suas escolhas vem acompanhadas de perdas irreversíveis, reforçando o caráter trágico de sua jornada.


A proposta do enredo, para funcionar, precisava de um ator carismático e com capacidade para dar conta das contradições do personagem, e Channing Tatum acaba sendo o nome certo. O roteiro, embora recorra a certas conveniências narrativas, funciona naquilo que se propõe.. Por fim, O Bom Bandido é, ao mesmo tempo, o retrato de um criminoso improvável e uma reflexão melancólica sobre família, solidão e arrependimentos. Uma grata surpresa no ano.

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