quarta-feira, 12 de junho de 2013

Crítica: Laurence Anyways (2012)



Xavier Dolan é relativamente um diretor novo com seus 23 anos, mas já possui uma bagagem de dar inveja em muitos diretores mais experientes. Confesso que não gostei dos outros dois trabalhos que assisti dele (Eu Matei a Minha Mãe de 2009 e Amores Imaginários), mas ainda sim, por insistência ou pura teimosia, resolvi dedicar duas horas e cinquenta minutos do meu tempo para dar uma nova chance ao seu trabalho. E dessa vez não me decepcionei.



Apesar da longa duração, que poderia ser encurtada facilmente (fica evidente o excesso em algumas cenas), o filme prende o espectador até o fim contando a história do casal Fred e Laurence. Mas não se trata de um casal qualquer. Professor do colegial, Laurence divide seu tempo entre a mulher e as discussões intelectuais com os amigos . Apesar da aparente felicidade, há um vazio dentro dele que com o tempo ele não consegue mais disfarçar, e acaba tendo que expor a público: seu desejo de ter nascido mulher.

Laurence opta então pela troca de sexo, mas as consequências obviamente não são nada fáceis de suportar. Laurence têm de lidar com o preconceito de amigos, familiares, e principalmente com o conflito que isso causa no seu namoro. O enredo aborda justamente essa questão do amor entre os dois, que não desapareceu mesmo depois da bombástica revelação.


A maneira como Dolan desenvolve os personagens, com extrema atenção ao detalhes, é talvez o ponto forte da sua direção. Uma das melhores cenas do longa é quando Laurence conta pela primeira vez para sua namorada sua decisão de mudar de sexo e ao ouvi-lo dizer que odeia suas características masculinas, ela responde com os olhos cheios de lágrimas “você odeia tudo aquilo que eu amo em você”.


Outro ponto interessante é a cena em que Laurence anda pela primeira vez vestido de mulher pelos corredores do colégio onde dá aulas (antes de ser demitido por conta disso). A câmera tem o movimento como se fossemos os olhos de Laurence, enquanto acompanhamos a reação e a cara de desprezo das pessoas ao redor.


Em nenhum momento, Dolan se preocupa em explicar ao espectador o que está acontecendo. A estória flui sem precisar ser redundante, e as vezes até mesmo sem precisar do uso de palavras. E o fato de Lawrence de referir a Fred em seu livro como AZ (o começo e o fim de tudo) revela não só o significado que a garota tem em sua vida, como também é uma belíssima declaração de amor dele a ela.

Por fim, Lawrence Anyways é uma obra tocante, reflexiva, e bastante complexa, que vale bastante a pena ser assistida, apesar de sua longa duração. As atuações são firmes e a fotografia envolvente. Em poucas palavras, Dolan dessa vez está de parabéns.


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