quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Crítica: Elena (2013)



Normalmente, quando um diretor se propõe a fazer um documentário auto-descritivo da sua própria vida nas telas do cinema, isso acaba se tornando mais um meio de realização pessoal do que um eventual produto cinematográfico. Em Elena, porém, temos uma gratificante quebra desse paradigma.



O documentário trata do grande peso que a vida adquire quando nada parece estar tomando o rumo certo, e reflete sobre um momento muito triste da vida da diretora Petra Costa. Porém, apesar de ser algo bastante pessoal, ela se preocupou em não fazer um filme apenas para si mesma e seus familiares, mas para um público em geral que, assim como eu, nunca havia ouvido falar do seu nome.

Começamos acompanhando Petra em Nova Iorque, enquanto ela refaz os passos que sua irmã Elena fez nos anos 90, quando deixou o Brasil para viver o sonho de ser atriz de cinema nos Estados Unidos. Mesclando imagens do arquivo da família, quando Petra era ainda um bebê, com imagens dela já adulta reconstruindo os passos da irmã, o filme faz uma forte reflexão sobre a busca dos sonhos e o processo de perda dos mesmos.



O que o transforma em um bom filme não é apenas o drama pessoal de Petra, mas a forma lírica e poética com que ela reconta toda sua história de vida e principalmente sua relação com a irmã. Tudo isso acaba culminando na revelação de que a verdadeira Elena, descontente com o insucesso na carreira e carregando um forte peso de culpa nas costas, decide se suicidar ainda jovem. A narrativa nos faz pensar em todos os fatos que a levaram a cometer tal ato, e a mergulhar fundo na sua melancolia e na sua dor.

Apesar de ser um documentário, o longa é bastante diferente dos filmes do gênero que comumente são lançados, primeiramente pela forma como é transcrito. Quase não há entrevistas, e a narradora (a própria Petra Costa) conta toda a história como se estivesse escrevendo uma carta a sua irmã.




Por fim, fui assistir sem pretensão nenhuma e saí dilacerado, pensando na solidão que todos carregamos sem sequer percebermos. No final, Elena transborda o limite do pessoal e acaba se transformando em um filme universal, onde todos se identificam e mergulham fundo no vazio que é a vida, já que tudo que acontece é suscetível a qualquer um de nós.


Nenhum comentário:

Postar um comentário