É cada vez mais notável, principalmente de uns anos para cá, o crescimento do número de produções de sucesso que se passam no Oriente Médio, principalmente os que abordam a "eterna" guerra entre Palestina e Israel. O Filho do Outro (Lorraine Levy, 2012), Aproximação (Amos Gitai, 2007), Lemon Tree (Eran Riklis, 2008) e Uma Garrafa no Mar de Gaza (Thierry Binisti, 2012) são bons exemplos dessa nova safra, que agora fica ainda mais interessante com o novo filme do diretor Ziad Duoeiri, O Atentado (The Attack), adaptação do best-seller de Yasmina Khadra.
Amin (Ali Suliman) é um conceituado médico palestino que mora em Israel, e que acabou de receber o prêmio máximo da categoria. No dia seguinte, enquanto está de plantão no hospital onde trabalha em Tel-Aviv, ele ouve uma explosão vinda de algum lugar da cidade, e logo os feridos começam a chegar em grande escala com ferimentos terríveis de mutilação.
Um dia depois, Amin é chamado no necrotério para reconhecer o corpo de alguém que a polícia alega ser sua mulher, Siham (Karim Saleh). Ao reconhecê-la, ele começa a enfrentar um pesado interrogatório, já que tudo indica que era ela quem estava carregando a bomba que explodiu em um restaurante, matando 17 pessoas entre crianças e adultos e ferindo mais dezenas.
O primeiro estágio, obviamente, é de negação. Ele não acredita que sua esposa poderia ter sido a causadora de tudo isso, afinal, ela nunca tinha demonstrado nada a respeito. O personagem começa a viajar nas lembranças do passado, desde quando eles se conheceram até os momentos felizes que viveram juntos, e fica cada vez mais difícil acreditar. No entanto, tudo muda quando ele recebe uma carta, escrita por Siham em vida, como forma de despedida e pedido de desculpas. É quando seu mundo verdadeiramente vai a baixo.
Ele parte em direção à Palestina para tentar descobrir o que foi que aconteceu e quem teria ajudado sua esposa a cometer o ato. Ao adentar no país vizinho, ele descobre que lá, do outro lado da fronteira, todos falam dela com orgulho, por ter feito um ato patriótico contra os "inimigos" vizinhos.
O final é lindo, e deixa uma dor no coração de quem assiste. Ziad Doueiri conta a estória com brilhantismo, e simplesmente não há o que criticar. Não é a toa que o filme recebeu o prêmio de melhor adaptação literária de 2013 na Feira do Livro de Frankfurt. Por fim, é muito bom perceber que o cinema ainda tem espaço para obras como essa, de tamanha sensibilidade, ainda que sejam pouco divulgadas.
O filme de Ziad Doueiri é intelectualmente revigorante !
ResponderExcluirFoge de clichés e sobretudo foge da fácil tentação de manipulação dos sentimentos
do excelentíssimo público, apresentando uma narrativa despretensiosa que capta a nossa atenção do princípio ao fim .
Aborda questões fulcrais no quadro do conflito do médio - oriente que continuam
a escapar ao Ocidente (vá-se lá saber porquê???)…Uma delas a noção de que
o principal motivo de tal conflito NÃO É a questão religiosa, sendo que a designação de "Árabes" não é reduzível a um todo , uno , e monolítico " povo" cultural , e religiosamente
falando.
A banda sonora, igualmente bela.
Vale a pena ver , pensar, comentar!
Isabel Teixeira-Dias
Rafael, assisti ao filme agora a tarde. E procurei por algo sobre o mesmo. E, entre tantos, inclusive de grandes sites, o seu foi o melhor. Já coloquei nos favoritos.
ResponderExcluirPoxa, obrigado Carlos Alexandre. Fico feliz de ler isso, é sempre gratificante.
ResponderExcluirExcelente!
ResponderExcluirObrigado Streaming pela legenda. Sem ela não seria assinante... Filme tem como pano de fundo a paixão de um homem. Bem elaborado e conduzido. Ótimo elenco. O personagem protagonista era apaixonado pela mulher palestina que estava mal intencionada ao se casar com ele. Médico, bom caráter, bem relacionado socialmente... Ficou traumatizada imensamente pelo ataque a Jenin... Dizem que o amor é cego. Acontece desde que o mundo é mundo... Caiu bem na película, o marido não observou bem a mulher; lembra o título “Dormindo com o inimigo”. Ele acreditou que era correspondido... A muçulmana nutria ligação afetiva por ele mas não o suficiente para impedir de praticar tal ato. Deixou pistas que estava tramando.
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