Harry, O Amigo de Tonto - Paul Mazursky (1974)
No Óscar de 1975, três nomes eram cotados como favoritos para ganhar o prêmio de melhor ator: Al Pacino por O Poderoso Chefão - Parte II, Jack Nicholson por Chinatown e Dustin Hoffman por Lenny. No momento do anúncio porém, uma surpresa: Art Corney, por Harry, O Amigo de Tonto (Harry and Tonto), foi quem levou o troféu para casa. Só o fato em si já é relevante o suficiente para que se queira ver esse filme do diretor Paul Mazursky, e posso garantir que vale muito a pena.
Na trama, acompanhamos Harry Combes (Art Carney), um senhor solitário que vive em um apartamento na região pobre de Manhattan apenas na companhia de seu gato, Tonto. Seu dia-dia consiste em dar uma volta pelas ruas da vizinhança, sempre com Tonto a tiracolo, e encontrar velhos amigos na praça local. Ele viveu a vida toda no mesmo prédio, e em alguns diálogos nostálgicos, ressalta como tudo tem mudado de uns tempos para cá. Esse seu sentimento piora quando ele tem que deixar o local porque o prédio vai ser demolido para a construção de um estacionamento.
Obrigado a ir morar com o filho, a nora, e os netos, e acreditando ser um estorvo para a família, Harry resolve viajar em direção à Chicago para se reencontrar com alguns fatos do passado. No entanto, acontecem várias confusões pelo caminho: ele não consegue embarcar num avião por causa do gato, e quando viaja de ônibus, é largado no meio da estrada após incomodar o motorista para que ele parasse, só porque Tonto precisava urinar.
Após se estabelecer na nova cidade, ele compra um carro e dá início a uma viagem sem precedentes, onde encontra uma gama de personagens interessantes. Entre eles Ginger (Melanie Mayron), uma jovem de 16 anos que fugiu de casa, além de uma prostituta e de um vendedor de gatos.
A cena mais marcante do filme talvez seja quando Harry reencontra um antigo amor que não via há 50 anos. Internada em uma clínica, e com problemas de memória, Jessie (Geraldine Fritzgerald) não o reconhece, mas ainda assim, os dois dançam como se fossem duas crianças.
O enredo é conduzido de forma poética, e conta com uma trilha sonora fantástica. Art Corney está realmente impecável no papel de Harry, e mereceu com pompas o Óscar recebido. Todos os outros personagens que aparecem no decorrer da história também são incrivelmente bem explorados pelo diretor, e cada um tem algo de único.
Por fim, não se trata apenas de um filme sobre a amizade entre um homem e um gato. É errôneo achar isso de início. O longa aborda muito mais, principalmente os sentimentos humanos ao chegar no fim da vida, como saudade, nostalgia, medo do futuro e dor pelos sonhos não realizados. Uma pequena obra-prima pouquíssima conhecida, mas de grandioso valor.
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