terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Crítica: A Felicidade das Pequenas Coisas (2022)


Quando foram anunciados os indicados ao Oscar de melhor filme internacional, um filme em especial se destacou por ser considerado até então um "azarão". Pouco cogitado para estar entre os cinco finalistas, A Felicidade das Pequenas Coisas (Lunana: a Yak in the Classroom), representante do Butão, surpreendeu a todos, mas basta assisti-lo para entendermos o porquê dele ter conquistado os votantes da academia.


Antes de mais nada é importante contextualizar que o pequeno país da Ásia Meridional é mundialmente conhecido como "o país da felicidade", por ter políticas que se preocupam verdadeiramente com a felicidade da população, baseadas nos valores do budismo e da cultura local. Dito isto, a trama gira em torno de Ugyen (Sherab Dorji), um rapaz que mora com a avó na capital e trabalha como professor no programa conhecido como "Felicidade Interna Bruta". No entanto, não é o que ele gosta verdadeiramente de fazer, já que seu sonho é ir para a Austrália ganhar a vida como cantor.

Certo dia, Ugyen é transferido para trabalhar em um colégio na aldeia de Lunana, que fica em um lugar muito isolado nas montanhas do país, e onde só se chega através de uma longa e trilha que dura vários dias. Mesmo descontente por saber que ficará longe de tudo, ele aceita o desafio, e chegando ao local se depara com uma realidade bem diferente do que estava acostumado, se surpreendendo com o modo de vida extremamente simples da população e com a maneira que eles são felizes assim, com tão pouco.

A admiração com a profissão de professor já é notada na recepção de Uygen na aldeia (que tem apenas 46 moradores, sendo 8 crianças), onde todos o tratam com muito respeito e cordialidade. A escola é bastante precária, não tendo nem mesmo itens básicos como um quadro negro ou cadernos para as crianças, mas os pequenos tem muito interesse em aprender e isso motiva o professor a buscar recursos. O filme também mostra como, mesmo isoladas, as populações de locais remotos sofrem com as consequências dos atos humanos em relação a natureza, como o aquecimento global, que eles nem sabem o que significa mas sentem na pele com a redução da neve nas montanhas durante o inverno.
Aliás, a relação deles com a natureza é sagrada e muito bonita de acompanhar, e me fez pensar em como deixamos isso de lado num mundo cada vez mais tecnológico.
 
 
O roteiro tem sim as suas facilitações, mas isso de forma alguma me incomodou, pois a mensagem que o filme passa no final é muito maior do que isso. Gostei da ironia da história ter um protagonista que mora no "país da felicidade" mas sonha alcançar a felicidade em outro país, e é bem interessante a construção que o roteiro faz desse personagem, e de como pouco a pouco ele vai se conectando consigo mesmo. Também fiquei impactado com as atuações dos moradores locais, que nunca haviam estado na frente de uma câmera. Com as montanhas do Himalaia de fundo, A Felicidade das Pequenas Coisas é um dos filmes mais delicados do ano, e uma belíssima homenagem a uma das profissões mais importantes que existem.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário