terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Crítica: Licorice Pizza (2021)


É incontestável que Paul Thomas Anderson é um dos melhores cineastas da atual geração, mas isso não impede que sua filmografia seja considerada inconstante. Ao mesmo tempo em que tem obras-primas como Boogie Nights e Sangue Negro, tem outras de qualidade bem duvidosa como Vício Inerente e agora o seu mais recente trabalho, Licorice Pizza, que é, para mim, o pior filme da sua carreira até então.


A trama se passa nos anos 1970, no noroeste de Los Angeles, e acompanha o adolescente Gary (Cooper Hoffman), que se apaixona por Alana (Alana Haim), uma garota dez anos mais velha que trabalha como assistente de fotografia e está ajudando nas fotos do anuário escolar. O começo parece promissor e nos transporta diretamente para aquela atmosfera setentista, tanto pela paleta de cores como pelas roupas utilizadas pelos personagens, sem contar a ótima trilha sonora de Johnny Greenwood. A partir de então passamos a acompanhar o vai e vem dessa paixonite que se cria entre os dois, apesar da diferença de idade, enquanto eles cruzam com inúmeras situações aleatórias e resolvem se juntar nos negócios, primeiro no ramo dos fliperamas e depois na venda de colchões d'água.

Bom, primeiramente, não consegui comprar a ideia de um jovem de apenas 15 anos ter tanta facilidade para abrir negócios, mesmo entendendo que o dinheiro supostamente veio da sua carreira de sucesso como ator mirim, que também é mal explorada. Alguns personagens também são jogados de uma hora para outra na história e desaparecem na mesma velocidade. É o caso de Jerry, interpretado por John Michael Higgins, ou de William, interpretado por Sean Penn, ambos com participações bem toscas e que não fazem sentido algum. Tem ainda o personagem de Bradley Cooper, que tenta ser cômico mas não passa de uma esquete de humor sem graça.

A montagem do filme também é terrível. Em um momento os personagens estão em um local, logo depois já estão em um vôo indo para algum lugar, e tudo isso sem nenhum fio que ligue uma coisa a outra. Usei uma cena específica como exemplo, mas poderia citar várias outras em que ocorre essa mudança repentina no roteiro.
Aliás, eu poderia enumerar mais uma série de aleatoriedades que me incomodaram demais, como um homem misterioso que ronda o escritório de um político para quem Alana começa a trabalhar, ou a própria protagonista achar normal andar pela rua de noite usando apenas lingerie. Mas o fato dos personagens começarem a correr do nada em algumas cenas certamente é o pior de tudo. E o que falar então daquela cena onde um personagem pede para ver os seios da outra? Não, Paul Thomas Anderson, não. Para finalizar, esse arco romântico dos protagonistas, que é segurado até o final, termina de forma atropelada e abrupta, fechando o filme da maneira mais anticlimax possível.


Se o roteiro não funciona em momento algum, pelo menos a atuação de Alana Haim deve ser elogiada. Que grande achado essa jovem atriz, que mostra ser uma promessa e tanto. Cooper Hoffman, filho do ator Philip Seymour Hoffman, falecido em 2014, também tem uma boa estreia nas telas, mesmo estando na pele de um personagem totalmente sem carisma. É difícil escrever na contramão da maioria, mas Licorice Pizza já é de longe uma das maiores decepções cinematográficas da minha vida, principalmente porque a expectativa era enorme.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário