Quem já assistiu algum filme do iraniano Asghar Farhadi, sabe que uma das suas principais características é pegar uma situação super simples do cotidiano e transformar em uma história cheia de desdobramentos e impasses morais. Foi assim em O Apartamento, em A Separação, e é assim agora em seu mais novo trabalho, Um Herói (Ghahreman), que fala acima de tudo sobre a busca pela dignidade.
O ato de devolução da bolsa e da quantia que havia dentro logo vira notícia na mídia, e Rahim é tratado como um verdadeiro "herói", ganhando entrevista na televisão e incentivando até mesmo um grupo de apoio a fazer uma vaquinha para ajudá-lo a sanar as dívidas e sair definitivamente da prisão. Porém, não demora para que boatos comecem a pôr em dúvida se Rahim teria agido mesmo de boa fé ou se tudo não passou de uma farsa para ele se sair como bom moço e conquistar sua liberdade.
Essa ambiguidade sobre o ato de Rahim é o que abastece o espectador, em um roteiro que prende até o final. O filme não revela se a bolsa foi realmente encontrada, e cabe a nós sermos os "detetives" do caso, ligando os pontos a cada nova revelação e tirando nossas próprias conclusões. A figura do credor de Rahim é importante nesse sentido, pois é ele quem nos traz o que aconteceu no passado entre os dois personagens e revela alguns traços até então desconhecidos da personalidade do protagonista. Tenho apenas algumas ressalvas quanto a passagem do tempo, já que pela quantidade de ações dos personagens eu senti que o filme parece se passar em muito mais dias do que apenas dois. Também achei pouco explorada a relação de Rahim com a namorada e principalmente com o filho, mas não posso dizer que isso atrapalhou a experiência, já que o final é muito poderoso.
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