A
evolução de doenças neurodegenerativas na terceira idade é sempre um
tema delicado de ser tratado no cinema, justamente por ser algo que está
próximo de todos nós. Se não dentro da nossa própria família, temos
pelo menos algum conhecido que sofre ou já sofreu com a enfermidade, e
isso mais do que nunca torna a identificação imediata, tanto com o
paciente quanto com as pessoas em volta. Recentemente tivemos um ótimo
exemplo do assunto em Meu Pai, dirigido por Florian Zeller, mas também
consigo citar outros bons filmes como O Filho da Noiva e Amour.
Marcando
a estreia da dupla Ann Sirot e Raphael Balbino na direção de longas
metragens, Uma Vida Doida (Une Vié Dément) apresenta Alex (Jean Le
Peltier) e Noémie (Lucie Debay), um casal que está cheio de planos para o
futuro, e o principal deles envolve ter um filho. No entanto, eles
precisam mudar os rumos quando a mãe de Alex começa a apresentar
sintomas graves de demência e não tem mais condições de ficar sozinha em
sua própria casa.
Diferente dos outros filmes que citei, que
abordam o tema sob a forma de drama, aqui temos boas pitadas de humor,
que deixam o filme mais leve, mesmo tratando algo doloroso. Jo Deseure,
que interpreta a mãe de Alex, tem uma atuação incrível, e consegue
passar com perfeição todo o sentimento de alguém que perde sua
capacidade de agir e pensar, mas não perde sua essência.
Além do tema principal, o roteiro também fala sobre relacionamentos, ciclos, e claro, sobre o amor. O amor mãe e filho, o amor de marido e mulher, mas principalmente o amor que vence as dificuldades para se manter de pé, independente das circunstâncias. Minha única ressalva é em relação a edição do filme, que apresenta cortes bem desnecessários das cenas, inclusive no meio de diálogos, o que me incomodou bastante durante a exibição. No mais, é um filme sensível e com uma bela fotografia, que trata o tema com a sutileza que ele merece.
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