segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Crítica: Invocação do Mal (2013)


De todos os gêneros cinematográficos, o terror é certamente o menos respeitável como forma de arte. E não se pode julgar quem pensa dessa maneira. Eu mesmo, há tempos, desisti de ver filmes do gênero por não trazerem absolutamente nada de novo. É tanta repetição das estórias, com as mesmas cenas de sustos e os mesmos finais, que passou a ser desgastante a sensação de assistir o mesmo filme 50 vezes. 


No entanto, depois de ver muita gente de respeito falar bem de Invocação do Mal (The Conjuring), resolvi deixar de lado a desconfiança e apertei o play. E não é que fiquei impressionado? Desde a primeira cena, já percebi que não se trata de um filme de terror qualquer, e isso já foi motivo suficiente para ir até o final.

O enredo é bastante banal e simplório. Uma família se muda para uma nova casa no interior, com suas cinco filhas pequenas. Ao longo do tempo, coisas estranhas começam a acontecer no local, e após o desespero tomar conta da família, eles resolvem chamar uma dupla de "caça-fantasmas-exorcistas".


O que faz Invocação do Mal ser um bom filme e diferente dos outros, é a maneira com que o diretor James Wan (Jogos Mortais e Sobrenatural) nos conta a história. Tudo começa sob a visão do famoso casal de investigadores de eventos paranormais, Ed Warren (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga), num tom "documental". Eles estão em um auditório, palestrando para um grupo de jovens atentos sobre suas histórias mais marcantes e o desafio que enfrentam a cada dia.

Nesse ínterim, passa a ser contada a história de Andrea (Ron Livingston) e Cynthia Perron (Lili Taylor), o casal que se mudou para a casa do interior. O que choca ainda mais, é que tudo é baseado em uma história real. E não é apenas jogo de marketing, basta pesquisar na internet que você encontra notícias verdadeiras sobre o caso.



Um verdadeiro filme de terror deve colocar medo no espectador, e isso é o que não falta no longa. Porém, não é um medo extravagante e apelativo. O diretor utiliza elementos bastante improváveis e simples para "amedrontar" o espectador, como o ranger de uma porta, o barulho do assoalho velho, a visão de um porão abandonado ou o simples sopro do vento. 

Outro ponto interessante é que o filme foca principalmente na reação dos personagens ao se depararem com o desconhecido, e muito pouco na visão daquilo que os assusta. Os rostos apavorados dos personagem e o suspense do que vai acontecer na próxima cena, é o que ajuda a criar uma atmosfera angustiante e um alto grau de desconforto psicológico em quem assiste. Os sustos, apesar de coadjuvantes no enredo, aparecem algumas vezes e não são nem um pouco previsíveis.


A fotografia e a trilha sonora combinam certo com cada momento do filme, e a recriação da época em que se passa (anos 70) é também impecável. O filme possui até mesmo uma referência bastante explícita a respeito do clássico Os Pássaros, do Hitchcock, numa espécie de homenagem do diretor ao gênero, já que ele anunciou recentemente que está o deixando.

As atuações são impecáveis, principalmente por conta do elenco maduro e respeitável. Apesar de trazer nomes como Vera Farmiga e Patrick Wilson, já conhecidos da televisão e do cinema, quem rouba mesmo a cena é Lili Taylor. No papel da mãe doce e frágil, que acaba sendo possuída por um ser demoníaco e precisa lutar interiormente contra isso, ela consegue até mesmo emocionar. Com uma atuação poucas vezes vista, ela transforma Cynthia Perron em uma das mães mais marcantes do gênero.


Assustador, angustiante e inovador, Invocação do Mal é um respiro de alívio na tão defasada indústria dos filmes de terror. Um verdadeiro resgate à velha fórmula, que transformou alguns filmes do gênero em clássicos cultuados até hoje. Um filme que tem tudo para se tornar um clássico daqui um tempo.


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