domingo, 8 de dezembro de 2013

Recomendação de Filme #46

Felicidade - Todd Solondz (1998)

Todo mundo vive em busca da felicidade, isso é um fato. Mas afinal, o que é a tal felicidade? Se formos parar para analisar, percebemos que cada um tem uma visão própria desse sentimento, de tão abstrato e individual que ele é. De forma natural, chocante e melancólica, o diretor Todd Solondz nos traz em Felicidade (Happiness), um estudo aprofundado do tema, abordando a vida de uma série de pessoas interligadas por laços familiares ou sociais.



Solondz já havia dissecado os sentimentos do ser-humano de forma sarcástica no excelente Bem-Vindo à Casa de Bonecas, e dessa vez não foi diferente. Não espere ver pessoas felizes e alegres com a vida, levando o nome do filme ao pé da letra. Pelo contrário, são personagens que vivem no desespero e na depressão, e que muitas vezes são levados a cometer atos imorais e até mesmo criminosos. Um verdadeiro e cruel retrato da humanidade, que se esconde cada vez mais atrás de mascaras e atitudes superficiais para tentar abafar os fatos tristes da vida.

Ambientado nos subúrbios de Nova Jersey, onde o diretor cresceu, a trama se concentra primeiramente nas irmãs Jordan. Trish (Cynthia Stevensson) é a verdadeira imagem dos comerciais de margarina: bem sucedida, vivendo numa bela casa, com filhos e um marido perfeito. No entanto, seu marido "perfeito" não passa de um pedófilo, que estupra o filho do melhor amigo e vive seus dias reprimido por não poder revelar sua preferência sexual a ninguém.



Helen (Lara Flynn Boyle) é uma bem-sucedida escritora que vive de futilidades, e que cansada das noites de sexo descomprometido com desconhecidos, acaba se interessando por Allen (Phillip Seymour Hoffman), um nerd reprimido que sente prazer em fazer ligações telefônicas obscenas. O personagem de Hoffman é degradante e patético, e tenta a todo momento esconder suas perversões enquanto se aproxima de Helen.

Por fim tem Joy (Jane Adams), uma operadora de tele-vendas solitária que sonha ser uma cantora folk de sucesso com sua música "Happiness". Ela só consegue atrair homens degenerados, e apesar da preocupação das duas primeiras irmãs com ela, cada uma vive na sua individualidade sem fazer nada para ajudar.



Nesse ínterim, tem os pais de Joy, Helen e Trish, que estão à beira do fim de um casamento de 40 anos, mas não fazem grande esforço para se separarem e continuam, acada dia, vivendo suas vidas no comodismo.

A profundidade de cada um dos personagens desse filme é impressionante. Na medida em que o espectador vai se familiarizando com eles, vai inevitavelmente se identificando com algo de cada um, o que cria um certo dilema na cabeça.



Masturbação explícita, linguagem suja e sobretudo a pedofilia foram fatores suficientes para chocar o público e a crítica no seu lançamento. Um filme de exceção, para poucos, que não segue nenhuma regra, principalmente a do politicamente correto, e que mesmo assim ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cannes daquele mesmo ano.

O que fica claro é que felicidade é um artigo raro, e que procurá-la pode ser um exercício penoso. Sem caras conhecidas do público no elenco (Seymour Hoffman foi dentre eles o que conseguiu ter uma carreira mais rentável depois, mas na época ainda vivia no anonimato), o filme preza por excelentes diálogos e se dá bem na mescla entre humor e drama. Certamente um dos melhores que já tive a oportunidade de assistir.


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