sábado, 16 de outubro de 2021

Crítica: A Ausência que Seremos (2021)

 


Entre os anos 1958 e 1974 a Colômbia viveu sob um regime militar, que reunia conservadores e liberais e batia de frente com movimentos sociais. Nesse período de enorme crescimento populacional, também aumentou consideravelmente a desigualdade, justamente por não haver políticas públicas voltadas aos mais pobres. Nesse ínterim viveu Hector Abad Gómez, um médico sanitarista e professor universitário de Medellín que foi um forte defensor dos direitos humanos.


A história de Hector, interpretado pelo ótimo Javier Câmara, se passa em dois períodos distintos de sua vida e é contada pelos olhos do seu único filho homem, também chamado Hector, que hoje é escritor e foi quem lançou o livro de memórias no qual o filme se baseia. A figura do personagem principal é bem construída, um homem amoroso e carinhoso com a família e seus alunos, mas que ao mesmo tempo saía do sério quando suas ideias eram consideradas equivocadas. Sua preocupação com o ser humano é com certeza o que mais chama a atenção e o transforma numa figura realmente fascinante de acompanhar.

Interessante analisar que o médico não se dizia nem de esquerda e nem de direita, mas sofreu perseguição ao ser considerado comunista por se preocupar com a população de baixa renda (qualquer semelhança com os dias de hoje é mera coincidência). Outro exemplo que poderia ser comparado aos nossos dias é a vacina da poliomielite que Hector estava estudando trazer para a população infantil do seu país, que era vista com maus olhos pelos céticos da ciência.


Nos minutos finais, senti que o roteiro pesou um pouco no dramalhão, mas não acho que isso atrapalhe a experiência. A trilha sonora e a ambientação da época estão impecáveis, bem como a atuação de Javier Câmara (do qual sou fã de longa data) e do menino Nicolás Reyes Cano. O nome do filme é emblemático e vem do poema Epitáfio, escrito por Jorge Luis Borges, que segundo o filho de Hector, ele carregava no bolso no dia de sua morte. Entre dezenas de filmes que entram em cartaz toda semana na Netflix, esse passou um pouco despercebido do grande público, mas por sorte chegou até a mim. Uma história sensível e sobretudo humana sobre um grande homem.


Um comentário:

  1. Filme essencial para todos que refletem sobre o papel social dos profissionais de saúde, hoje bastante esquecido na formação médica. Antes de político, Héctor Abad era um defensor da justiça social, dos direitos do paciente, da medicina sóbria, justa e respeitosa, movimento filosófico em expansão no Brasil: Slow Medicine.

    ResponderExcluir