sábado, 23 de outubro de 2021

Crítica: Os Intranquilos (2020)


O transtorno bipolar é um distúrbio mental complexo e bastante comum, com mais de 2 milhões de casos diagnosticados anualmente só no Brasil. Além da mudança drástica de humor, o bipolar ainda tem algumas características típicas quando está na chamada "fase depressiva", como pouco ou nenhum controle do temperamento, o humor irritadiço, e os pensamentos precipitados e depreciativos. Viver com isso não é fácil, e o novo filme de Joachim Lafosse propõe mostrar como é lidar com essa doença, e principalmente o quanto ela afeta a vida e as relações pessoais do portador.


O roteiro acompanha Damien (Damien Bonnard) e Leila (Leila Bekhti), um casal apaixonado que tem um filho pequeno. Assim como já havia feito no espetacular Perder à Razão (2012), Lafosse explora aqui mais uma vez o dia a dia de um casal vivendo sob pressão, e neste caso a pressão é a bipolaridade de Damien, que toma um forte remédio diariamente para tentar manter uma certa estabilidade. Os problemas começam quando Damien passa a não querer tomar o remédio, e a ter crises terríveis de comportamento por conta disso. É curioso perceber que todas as vezes que Damien está medicado ele parece distante da mulher e dos filhos, num estado quase apático, enquanto que sem a medicação ele parece eufórico, e esse talvez seja o motivo dele simplesmente não querer tomar mais os comprimidos.

O filme mostra bem como um transtorno mental afeta não somente o doente mas sobretudo as pessoas que convivem com ele. Leila é uma pessoa que vive praticamente às voltas de cuidar do marido, não tendo tempo para realizar outras atividades, principalmente de lazer. Ela traz um semblante cansado, de alguém que faz o que faz por amor, mas não aguenta mais viver numa montanha russa de sentimentos. Aliás, um ótimo trabalho da atriz Leila Bekhti.


Minha única ressalva é em relação ao final do filme, que achei que poderia ter sido melhor trabalhado. Porém, acho importante termos histórias que abordem distúrbios como a bipolaridade, visto que ainda existe um grande preconceito e desconhecimento por parte da população. Este é um transtorno que não tem cura, mas tem tratamento, e é possível viver uma vida normal desde que seja levado a sério e com responsabilidade.


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