Uma alegoria autobiográfica de Paolo Sorrentino. Assim eu
definiria A Mão de Deus, que estreou no Brasil esta semana através do
catálogo da Netflix. Sorrentino é um diretor ousado, despudorado e
politicamente incorreto, e vemos todos esses elementos novamente aqui,
em uma história de amor à Nápoles, ao cinema italiano e a… Diego Armando
Maradona.
O filme começa acompanhando Fabietto (Fillipo Scotti),
um jovem que vive com a família na cidade italiana de Nápoles em meados
dos anos 1980. Aliás, a família do garoto é a típica família
napolitana, barulhenta e com muitos membros, e o roteiro não se acanha
em apresentar personagens bem caricatos para demonstrar isso.
Apaixonados
por futebol, os homens vivem na expectativa de ver o astro argentino
Diego Maradona acertar com o Napoli, o time da cidade, coisa que na
época era visto apenas como boato por ser algo impensável. Nesse clima
de expectativa, Fabietto também precisa conviver com a puberdade, com
descobertas da idade, e principalmente com perdas duríssimas, que de
alguma forma servem para moldar sua visão do futuro e seu amor pela
arte. O diretor já disse em entrevista que o filme trata de um momento
real e traumático na sua vida, e por isso mesmo possui um tom bastante
intimista.
Apesar de se tratar de um drama, o enredo tem diálogos engraçadíssimos, além de apresentar cenas muito bonitas esteticamente. O filme também traz toques de realismo mágico, o que deixa ainda mais clara a referência que Sorrentino tem de Fellini. O clássico diretor italiano inclusive é citado muitas vezes no longa, principalmente quando o irmão de Fabietto, que sonha ser ator, participa de uma audição para um filme do mesmo. Depois de A Grande Beleza e Il Divo, Sorrentino faz mais uma parceria com Toni Servillo, que interpreta o pai de Fabiotte, e que novamente está encantador. O roteiro deixa alguns pontos em aberto, sobretudo seu final, e também possui algumas incongruências cronológicas, mas nada que chegue a atrapalhar o conjunto da obra. É mais um belo filme, de um dos grandes diretores italianos da atualidade.
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