quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Crítica: Nitram (2021)


Em 28 de abril de 1996, a Austrália amanheceu chocada com as notícias do acontecimento que ficou conhecido como Massacre de Port Arthur, onde 35 pessoas foram mortas a tiros por um homem em um ponto turístico da região da Tasmânia. Mas o que leva alguém a cometer um ato tão violento desses e com pessoas inocentes? É partindo dessa premissa que o diretor Justin Kurzel nos apresenta Nitram, filme que traz um pouco da história do autor deste massacre, que desde sempre teve nítidos problemas comportamentais mas que nunca recebeu o devido tratamento e a devida atenção.


Chamado de Nitram, apelido jocoso que recebeu ainda na escola como forma de bullying, o rapaz é extremamente inconsequente, e isso vem desde criança quando por brincadeira colocou fogo na sua escola. Durante todo o tempo de duração do filme, tive a sensação estranha de não saber o que ele faria a seguir, pois se trata de um personagem impulsivo e capaz de qualquer coisa. Isso também é sentido pelos seus pais, que não sabem o que fazer com ele, e ao invés de buscar ajuda optam pelo mais fácil que é simplesmente deixar ele fazer o que quiser. Essa liberdade acaba sendo muito mais nociva para ele do que se ele recebesse limites e castigos, e isso fica cada vez mais evidente ao longo da trama.

Certo dia Nitram conhece Carleen (Judy Davis), uma mulher mais velha, que é viúva e muito rica, que praticamente o adota como o filho que ela não teve. Carleen passa a mimá-lo, como forma de compensar o que ele não teve dos pais, dando presentes e até mesmo um carro para ele. A princípio é uma relação estranha e até difícil de engolir, mas entendi que por ser uma mulher solitária na finitude da vida, ela aceitou Nitram em troca de ter uma companhia.


A construção da personalidade do protagonista é muito boa, e isso se deve demais a atuação de Caleb Landry Jones, uma das melhores que vi nos últimos anos. É realmente impressionante o trabalho do ator, e foi muito merecido seu prêmio de melhor atuação em Cannes. Por fim, o filme ainda traz uma boa discussão sobre a liberação de armas de fogo para civis, já que o caso real ajudou inclusive a mudar as leis de armamento no país.

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