quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Crítica: Titane (2021)


Vencedor da Palma de Ouro no último Festival de Cannes, Titane é um filme difícil de digerir, e confesso que terminei de assisti-lo com sentimentos controversos. Ao mesmo tempo que gostei da fotografia e da originalidade do roteiro, certas coisas me distanciaram um pouco da experiência como um todo, e explicarei mais a seguir.


A trama acompanha Alexia (Agathe Rouselle), que ainda criança sofreu um acidente de carro e precisou colocar uma placa de titânio na cabeça, que ficará para sempre junto dela. Após uma cena inicial marcante, o filme dá um pulo temporal e passa a mostrar Alexia já adulta, ganhando a vida como dançarina em exposições de veículos. Aliás, a relação da personagem com carros é algo muito simbólico, e ela tem uma maneira peculiar de lidar com esse trauma que o acidente na infância deixou.

Após cometer alguns crimes e ter medo de ser pega, Alexia decide se passar pelo filho do bombeiro Vincent (Vincent Lindon), que está desaparecido há anos. Ela muda todo o visual (de uma maneira bem incômoda para o espectador) para ter a aparência que o garoto teria nos dias de hoje, de acordo com o retrato falado anunciado, e Vincent a aceita como sendo seu filho, mesmo ficando evidente que ele sabe a verdade. Temos, na verdade, dois personagens que se reconhecem nessa questão de trauma e de solidão, e por isso mesmo talvez ele acaba aceitando esse "filho" de volta ao lar sem pensar duas vezes.


É um filme bastante interpretativo, diria até mesmo abstrato, e mesmo que evoque boas discussões sobre suas teorias e analogias, o enredo não funcionou muito bem comigo. Senti que faltou esclarecer o porquê de Alexia agir de forma criminosa, principalmente as suas motivações, e achei bem rasa a construção da personagem, com muitas cenas aleatórias que ao meu ver foram desnecessárias. Assim como já havia feito em Grave, a diretora Julia Ducournau explora aqui a degeneração e a destruição do corpo humano como forma de terror, usando um humor um tanto quanto macabro em algumas cenas. A fotografia em neon cria uma atmosfera bastante peculiar, quase como um terror lado B, e isso é um ponto positivo, mas no geral, é um filme que frustrou minhas expectativas.

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