Somos
seres indecisos, controversos e às vezes até mesmo, porque não, cruéis.
Mas isso não nos faz a pior pessoa do mundo, por mais que tenhamos essa
impressão quando tudo parece dar errado. Abordando essas nossas
imperfeições e fragilidades, o novo filme de Joachim Trier se divide em
12 capítulos, mais um prólogo e um epílogo, para contar alguns anos da
vida de Julie (Renata Reinsve), que está naquela fase de transição
(aproximadamente 30 anos) onde o tempo parece estar se esgotando para
ela decidir os caminhos a trilhar.
Depois de fazer cursos como
medicina e fotografia, mas não encontrar de fato o seu lugar neles,
Julie ganha a vida trabalhando numa livraria, enquanto escreve artigos
para um site. Ela também está casada com Aksel (Anders Danielsen Lie),
um homem 10 anos mais velho, que ficou famoso ao criar um personagem de
HQ. Desde o início dá para perceber que mesmo tendo muito amor na
relação, existe um conflito grande de ideias entre os dois,
principalmente por Julie não se sentir pronta para ter filhos e Aksel já
estar numa idade em que pensa constituir uma família. Isso faz com que
ela se sinta muito culpada, sobretudo quando percebe que todas as
gerações anteriores à sua já tinham filhos com a sua idade.
No
meio deste conflito interno, a vida de Julie fica balançada quando ela
conhece um barista, que também está em um relacionamento, chamado Eivind
(Herbert Nordrum). Aliás, o encontro dos dois tem uma das sequências
mais legais que vi no cinema, onde eles tentam testar como forma de
brincadeira, até onde é considerado ‘’trair’’ alguém. Os dois ainda são
responsáveis por aquela que, para mim, é a grande cena do ano, em que o
tempo literalmente pára e Julie consegue tomar uma decisão que impacta
sua vida dali para frente.
Renata Reinsve está magnífica, e ouso dizer que foi uma das melhores atuações que vi nos últimos anos. O enredo também intercala bem entre humor e drama e tem ótimos diálogos. A transição entre um capítulo e outro, alguns com nomes bem subjetivos e irônicos, também é muito boa. Por fim, é um filme sobre decisões, sobre relações, mas principalmente sobre como a vida é maleável e pode mudar em um piscar de olhos. Com toda certeza, um dos melhores filmes do ano.
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