O bullying que acontece dentro dos muros das escolas já
foi trazido inúmeras vezes para a tela do cinema, mas sempre há espaço
para uma nova forma de abordagem sobre o tema. Playground (Un Monde), da
diretora estreante Laura Wandel, fala sobre essa prática focando,
principalmente, no quão nocivo e violento o ambiente de um recreio
escolar pode ser no psicológico de uma criança que sofre com isso.
Nora
e Abel são dois irmãos que começam a frequentar uma nova escola juntos.
Abel é bastante retraído e quieto, e não demora para ele começar a
sofrer abusos violentos dos outros alunos, alguns inclusive de séries
mais avançadas e maiores que ele. Nora tenta intervir chamando os
funcionários da escola, que a ignoram por já ter outros problemas para
resolver, e sentimos na pele a agonia da menina, que tenta de tudo para
ajudar o irmão e se sente impotente diante da situação. Para piorar,
Abel não quer ajuda e fica até mesmo bravo com ela por isso, já que isso
seria um sinal de "fraqueza" da parte dele.
Tudo é mostrado sob a
perspectiva das crianças, sobretudo de Nora, e a câmera fica
praticamente o filme inteiro na altura delas. São pouquíssimos os rostos
adultos que aparecem, e apenas quando se abaixam para conversar com
algum dos pequenos. Temos aqui uma realidade nua e crua da escalada da
violência, já que em determinado momento Abel pega tudo que fizeram
contra ele e acaba descontando em outro, sendo apenas parte de um
verdadeiro ciclo vicioso.
É interessante a maneira como o roteiro também mostra o quão cruel as crianças podem ser umas com as outras quando não tem adultos por perto para vigiar, e sabemos como isso é bastante real. Indicado pela Bélgica ao Oscar de filme estrangeiro em 2022, Playground chama a atenção por diversos motivos, desde o tema ao roteiro competente, mas principalmente pela atuação da menina Maya Vanderbeque, que está incrível.
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