quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Crítica: As Linhas Tortas de Deus (2022)


O espanhol Oriol Paulo tem a minha admiração desde que lançou El Cuerpo (2012), que na minha opinião é um dos melhores filmes de suspense já feitos para o cinema. Desde então, procuro assistir tudo que ele faz, e apesar de não ficar encantado como da primeira vez, sempre acaba sendo uma boa experiência. Depois que iniciou uma parceria com a Netflix, o diretor lançou uma série (O Inocente) e três filmes diretamente no catálogo do streaming: Um Contratempo (2016), Depois da Tormenta (2018) e agora As Linhas Tortas de Deus (Los Renglones Torcidos de Dios), que promete ser o seu trabalho mais divisivo.


Baseado no livro homônimo de Torcuato Luca de Tena, o filme se passa no final dos anos 1970 e acompanha Alice Gould (Bárbara Lennie), uma detetive que aceita entrar como paciente em um manicômio para investigar uma suposta morte ocorrida no local. De acordo com ela, o pedido de investigação é do pai da vítima, um homem importante que faz um acordo com o diretor da instituição para que ela possa se passar por paciente sem que ninguém saiba da verdade, justificando que ela está ali depois de ter tentado envenenar o marido.

De uma forma nada linear, vamos acompanhando o desenrolar desta investigação em meio a outros tantos acontecimentos paralelos. Através de Urquieta (Pablo Derqui), um paciente antigo do local, Alice vai sabendo um pouco mais sobre cada um dos outros internos, bem como seus diagnósticos. Neste ponto o filme acerta em cheio ao mostrar como a medicina psiquiátrica era muito falha na sua forma de lidar com os enfermos de doenças mentais naquela época, apelando até mesmo para o terrível método de eletrochoques.

Pouco a pouco o "quebra cabeça" que Alice foi montar vai sendo completado, e o roteiro faz questão de nos instigar a duvidar de tudo, inclusive da própria Alice, já que na sua carta de admissão havia um trecho do médico responsável onde dizia para não acreditarem nela por ser uma mentirosa compulsiva. E o destaque todo fica por conta da atuação de Bárbara Lennie, que consegue criar toda a atmosfera dúbia na pele desta personagem tão enigmática e persuasiva.


Poucos diretores trabalham tão bem as reviravoltas em um filme como Oriol Paulo, e é impossível assistir um trabalho seu sem ficar esperando que tudo possa mudar de uma hora para a outra. Mas aqui eu senti que ele deu uma leve exagerada, tornando o filme bem cansativo após um certo momento. Uma pena, pois potencial existia. O que não se pode negar é que o final realmente surpreende, ainda que seja muito confuso.


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