quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Crítica: Holy Spider (2022)


Baseado em uma história real ocorrida na cidade iraniana de Meshed entre os anos 2000 e 2001, Holy Spider acompanha uma série de assassinatos de mulheres cometidos por Saeed Hanaei, um serial killer que no período de um ano matou ao todo dezesseis mulheres, todas prostitutas, por pura convicção religiosa. Sua justificativa era "limpar as ruas" destas mulheres, que para ele sujavam a sociedade iraniana e a religião muçulmana.



O roteiro não faz suspense, e já mostra logo de cara quem é o assassino, e isso ajuda a entender ainda mais suas reais intenções. Aos olhos dos outros, Saeed (Mehdi Bajessan) era um cidadão comum, pai de família e trabalhador da construção civil, que tratava bem seus filhos e sua esposa. Ou seja, alguém totalmente acima de qualquer suspeita. Quando uma repórter (Zar Amir Ebrahimi) chega à cidade, ela fica responsável por investigar a fundo o caso, já que logo percebe que a polícia aparentemente não tem intenção nenhuma de fazer algo a respeito. 

É interessante como o roteiro não foca na investigação em si, até por já sabermos quem é o assassino, mas sim, na dificuldade da jornalista em conseguir obter as provas e consequentemente justiça para as vítimas, já que grande parte da sociedade civil passou a ver o assassino como um herói moral, que estava salvando a região (conhecida por ser muito religiosa) dos pecados.

O filme também tece críticas às instituições iranianas, mas parece ter receio de falar mal do governo e de suas leis ultrapassadas. Também achei um pouco forçada as cenas das mortes, pois acho que não havia necessidade de mostrá-las de um jeito tão brutal como foram mostradas. Faltou sutileza para nos deixar revoltados sem precisar apelar. O ponto positivo é a atuação de Ebrahimi, que inclusive foi escolhida como melhor atriz no último Festival de Cannes.


Holy Spider é um filme poderoso, que critica sobretudo o fanatismo religioso, que foi o grande responsável por esses crimes ocorrerem e serem aplaudidos por uma parte considerável da população. Mais do que isso, fala sobre o quanto esse tipo de pensamento é normalizado e passa de geração para geração, como quando Saeed ensina seu filho a seguir seus passos.


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