Quando a Índia anunciou seu candidato oficial ao Óscar de melhor filme internacional para a edição de 2023, muita gente ficou surpresa. O mais esperado era que fosse escolhido "RRR: Revolta, Rebelião, Revolução", filme que vem conquistando muitos admiradores e, inclusive, tem representado o país em outras premiações como o Globo de Ouro e o BAFTA. Porém, bastam apenas alguns minutos de Last Film Show (Chhello Show) para que a gente compreenda o motivo deste filme ter sido escolhido.
Filmes que conseguem captar a magia que envolve o cinema sempre me encantam. Não é à toa que Cinema Paradiso (Giuseppe Tornatore, 1988) é um dos grandes filmes da minha vida, por mostrar um menino que faz amizade com o projetista de um cinema e se apaixona pela sétima arte. Aqui também temos um menino curioso e adorável, e que também fica deslumbrado com a forma que rodam as películas no projetor até chegar à tela grande. Estou falando de Samay (Bhavin Rabari), que é proibido pelo pai de ir ao cinema, mas consegue fugir da escola todos os dias para acompanhar escondido os grandes sucessos no precário cinema do centro da cidade.
A família do menino é extremamente pobre, e ganha a vida vendendo chá para os passageiros do trem que passa no vilarejo onde vivem. Se as condições de vida impedem o garoto de sonhar alto, o cinema serve como válvula de escape, onde sua imaginação voa longe. Ao fazer um acordo com Fazal (Bhavesh Shrimali), o projetista do cinema, Samay passa a assistir os filmes direto da cabine, onde vai aprendendo como funcionam todos os aspectos da projeção e os detalhes de como são feitos os filmes. Com a intenção de levar a experiência do cinema para as pessoas do seu vilarejo, que em sua grande maioria nunca tiveram a oportunidade de ver um filme, Samay passa a estudar os movimentos de luz e projeção, e com a ajuda de seus amigos acaba criando até mesmo um projetor feito de sucatas.
Desde o início do filme, fica evidente que a grande intenção do diretor Pan Nalin é fazer uma homenagem ao cinema e a quem ajudou a tornar o que ele é hoje, como quando agradece Stanley Kubrick, David Lean, Andrei Tarkovski e os irmãos Lumière logo nos letreiros iniciais. São diretores que moldaram a forma de contar histórias, e serviram de inspiração para praticamente todos os que vieram depois. Mas muito mais do que lembrar de cineastas estrangeiros, Nalin também faz uma belíssima homenagem ao cinema indiano, que é gigantesco e possui uma longa e importante história, mesmo que do lado de cá a gente conheça muito pouco sobre. No final, o diretor também usa o sentimento de nostalgia para falar sobre o avanço da modernidade e da tecnologia, com uma sequência muito emocional e que toca fundo no coração de qualquer um que tem amor pela sétima arte, mesmo àqueles que, como eu, já cresceram na era digital.
A atuação do menino Bhavin Rabari impressiona, ainda mais por pensarmos que é o seu primeiro trabalho como ator. Ele consegue nos apresentar com perfeição um personagem doce e carismático, que tem muita gana de fazer seus sonhos se tornarem realidade. Não posso deixar de falar que o filme tem muitas facilitações, principalmente quando envolve uma "super inteligência" nas crianças, que faz elas ultrapassarem certos obstáculos com uma facilidade que até mesmo adultos não teriam. Mas isso de fato não atrapalha o resultado final, principalmente se você estiver envolvido com a trama da forma como eu fiquei. Por fim, Last Film Show é um filme que não só nos faz regressar às raízes do cinema de uma forma muito sensível e tocante, como também celebra a importância que essa arte tem na vida de todos nós.
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