terça-feira, 3 de janeiro de 2023

Crítica: Triângulo da Tristeza (2022)


A luta de classes está mais viva do que nunca, e Ruben Östlund está aí para provar isso mais uma vez. Depois do excelente (e divisivo) "The Square", o cineasta sueco volta à cena com Triângulo da Tristeza (Triangle of Sadness), outra comédia ácida e divertidíssima sobre o comportamento humano, sobretudo dos milionários, e que assim como seu filme anterior também ganhou a Palma de Ouro em Cannes.


O filme é dividido em quatro partes, contendo um rápido prólogo seguido de três capítulos, e o primeiro capítulo começa nos apresentando ao casal Carl (Harris Dickinson) e Yaya (Charlbi Dean), que estão vivendo uma situação peculiar em um restaurante, onde discutem sobre quem deve pagar a conta e o porquê. Ele trabalha como modelo, ela como influencer digital, e graças ao prestígio da imagem dos dois, eles recebem o convite para ir de graça em um cruzeiro de luxo.

A segunda parte já mostra o início da viagem do cruzeiro, que está cheio de ricaços, e pouco a pouco vamos sendo apresentados a cada um. Nenhum deles parece ter alcançado a riqueza de forma lícita, como por exemplo um oligarca russo que vende fertilizantes que destroem a natureza ou um casal de idosos "fofos" que mantém um negócio de granadas de mão, que segundo eles, "é o principal mecanismo de defesa da democracia no mundo". No meio disso tudo tem a tripulação, treinada para aceitar passivamente tudo que os ricos pedem para fazer, por mais ridículo que seja o pedido, que é comandada pelo excêntrico capitão Thomas (Woody Harrelson), um marxista ferrenho que tem um sensacional "duelo de frases ideológicas" contra um russo capitalista e fã de Reagan e Thatcher. O tradicional "jantar do capitão", onde o mesmo recepciona os viajantes com pratos super refinados, se torna a cena mais catártica do filme, apresentando uma das melhores sequências cinematográficas que vi nos últimos anos.

A mesquinhez dos ricos é desnudada sem pudores pela direção. Temos o personagem que fica bravo por sua namorada dar um simples oi para um tripulante, pois onde já se viu ser simpática com alguém que está ali só para servi-los? Temos também a personagem que reclama de coisas extremamente banais, como uma sujeirinha no convés. Todos com egos inflados e preocupados com aparência e status. E por isso mesmo, a cena do jantar é tão sagaz, pois mostra como todos são frágeis e humanos ao se deparar com situações inesperadas.


Logo somos levados à terceira parte do filme, que se passa após uma tragédia tomar conta do navio. Nessa parte, o diretor inverte de vez a pirâmide de classes, já que a faxineira do cruzeiro é quem toma as rédeas do grupo por ser a única capacitada para a situação que eles precisam enfrentar. O filme é imprevisível, e nunca sabemos qual será o próximo passo, e por isso mesmo estou tentando não dar spoilers pois a experiência é muito melhor sabendo pouco de tudo que acontece. Seja com diálogos fortes e sarcásticos, seja com ótimas piadas visuais, o fato é que Triângulo da Tristeza é extremamente imersível e acaba sendo uma experiência muita satisfatória. Mais um acerto desse diretor que já virei fã.

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