sexta-feira, 9 de julho de 2021

Crítica: O Mundo de Glória (2020)


O novo filme de Robert Guédiguian se passa em Marselha, sua cidade natal, e começa literalmente com o parto de uma criança. Filha de Mathilda (Anais Demoustier) e Nicolas (Robinson Stévenin), a bebê recebe o nome de Glória, e nem imagina que sua chegada ao mundo vem em um momento delicado na vida da família, moral e financeiramente.


Mathilda trabalha numa loja de roupas, e vive dias de pavor com uma chefe abusiva. Nicolas trabalha como Uber, mas fica impossibilitado de dirigir após sofrer um ataque violento de um grupo de taxistas. Temos aqui o retrato social de um casal que luta diariamente para sobreviver, e ainda vê na chegada de um filho as coisas piorarem.

Ao mesmo tempo, Daniel (Gerard Meylan), o pai de Mathilda, sai da cadeia após anos de reclusão por, supostamente, ter cometido um assassinato. Interessante como o filme mostra a tentativa de ressocialização desse personagem, um homem já na terceira idade, que precisa reaprender a viver em liberdade enquanto lida com o preconceito por seu passado. Por intermédio da mãe de Mathilda (Ariane Ascaride) e do seu novo marido (Richard Benar), Daniel se reintegra aos poucos na família e passa a fazer parte da vida da neta recém nascida. No meio de tudo isso, temos ainda o casal Bruno (Gregoire Leprince-Ringuet) e Jackie (Diouc Koma), a irmã de Mathilda, que também tentam sobreviver dia após dia, mas de uma forma um tanto desonesta em sua loja de produtos usados.

 

Eu achei um filme bem orgânico, com pessoas que erram e acertam em coisas corriqueiras do dia dia, como todos nós. Gueguidian bebe da fonte de Ken Loach, num filme cru e realista, que traz inclusive algumas discussões sobre a classe trabalhadora, quando por exemplo a mãe de Mathilda é acusada de furar a greve que estava acontecendo em um dos seus trabalhos.

Mathilda fala em uma discussão com o marido que a vida anda tão corrida que as vezes falta tempo dela simplesmente amar. E quando fala amar, fala de uma forma geral, amar o marido, amar o que faz, amar a vida em si. E acho que essa é a ideia principal que o filme tentar mostrar. Apesar de alguns exageros, é um filme que merece atenção, e o prêmio de melhor atriz em Veneza para Ariane Ascaride foi merecido.